Inteligência artificial marca Conecta Imobi 2025 e aponta futuro do mercado imobiliário
LUCIANA MESSA
08/09/2025 12h18 - Atualizado há 1 dia
Conecta Imobi 2025 (Divulgação Grupo OLX)
Com o encerramento da edição 2025 do Conecta Imobi, maior evento do mercado imobiliário da América Latina e organizado pelo Grupo OLX, fica a constatação que as dezenas de palestras e mesas-redondas ocorridas no São Paulo Expo, entre os dias 03 e 04 de setembro, tiveram um tema em comum: como a Inteligência Artificial (IA) está transformando o setor.
Da análise de crédito à personalização do atendimento, da jornada do cliente à organização interna das empresas, passando até por novos modelos de letramento corporativo, os especialistas que participaram do evento mostraram que as ferramentas de IA já deixaram de ser tendência futura. Players do setor, de bancos a corretores autônomos, já estão incorporando a inteligência artificial ao seu cotidiano.
No Grupo OLX, a adoção de IA é estruturada em dois eixos: cultura e letramento. De um lado, a empresa estimula uma mentalidade AI-first, voltada para a resolução de problemas e o aprendizado contínuo em ciclos curtos. De outro, promove trilhas técnicas e comportamentais para capacitar colaboradores em estatística básica, governança de dados e boas práticas de uso. “O primeiro passo é perder o medo — consciente ou inconsciente — da IA”, afirmou Fábio Marcolino, VP de Dados e IA do Grupo OLX.
Desde o início do programa, em 2022, o uso de IA entre colaboradores cresceu 75%, chegando a 95% na produção de textos e elevando em 78% a qualidade das apresentações. Hackathons internos, que já resultaram em 24 novas ideias, ampliam a participação dos times e geram soluções implementadas no dia a dia. Para reforçar o engajamento, a empresa lançou podcasts sobre privacidade e long life learning, além de premiar com uma viagem à China três profissionais que desenvolverem soluções com impacto real.
Entre as iniciativas, destaca-se o “Joca”, um agente interno generativo que, em três meses, evoluiu de chatbot a concierge digital, e hoje é capaz de abrir chamados, atender áreas como RH e jurídico e disponibilizar no sistema da empresa mais de 300 estudos e insights. “Cada empresa deve chegar ao seu modelo de agente, que pode ser adaptado para ter uma ‘personalidade’”, explicou Marcolino.
O Grupo OLX lançou também sua nova assistente virtual de pré-atendimento, a “Izi”. Capaz de conversar de maneira natural e adaptar sua linguagem ao longo das interações, capaz de compreender inclusive mensagens de áudio enviadas pelos clientes, a “Izi” funciona como uma espécie de corretora disponível 24h por dia, solucionando um dos principais gargalos de vendas do setor imobiliário: aquela demora entre o contato inicial do cliente e a resposta do corretor, que faz com que muita gente desista de um negócio promissor. IA preditiva e crédito imobiliário
Mas as novidades não se restringem à chamada IA generativa, aquela por trás de ferramentas como o ChatGPT ou de uma assistente virtual como a Izi. Durante sua palestra no Conecta Imobi, Luís Veloso, COO da Morada.AI, destacou também o impacto da IA preditiva na análise de crédito imobiliário.
Segundo ele, o Brasil realiza quase 3 milhões de análises de crédito por ano, com boa parte desse processo ainda relativamente “analógico”. Com a ajuda da IA, isso pode ser automatizado — da coleta de informações à simulação de financiamento —, eliminando a necessidade de reunir pilhas de documentos. “Assim como as fintechs simplificaram o crédito pessoal e as imobiliárias digitais tornaram o fiador obsoleto, a IA abre espaço para uma aprovação mais ágil, justa e eficiente”, afirmou Veloso.
Ser como água
Em outro painel, o diretor de customer engineering da Google Cloud Brasil, Roberto Prado, usou uma conhecida metáfora do ator e lutador Bruce Lee para traduzir o sentimento de disrupção que marca o momento atual: “A gente precisa ser como a água. Se tentar parar, ela derruba. Se deixar, ela flui.”
Prado destacou que 75% do valor gerado pela IA hoje está no atendimento ao cliente. “O futuro é conversacional. Não se trata mais de usar chatbots de múltipla escolha, mas de agentes capazes de interagir em linguagem natural, com empatia e até sotaque regional”, explicou.
Segundo ele, a adoção da IA nas empresas tem acontecido muitas vezes pela iniciativa dos próprios colaboradores que experimentam ferramentas no dia a dia e percebem rapidamente suas vantagens. “Se você tem duas pessoas excelentes, mas só uma usa IA, quem vai performar melhor?”, pergunta ele de maneira retórica. “A ferramenta não substitui, mas potencializa o talento.”
Desafios para a adoção
Apesar do crescimento vertiginoso, a adoção da IA no mercado imobiliário brasileiro ainda tem muito o que avançar. Segundo pesquisa recente da ABRAINC, só 19% das empresas do ramo afirmam já adotar ferramentas desse tipo. A título de comparação, esse índice é de mais de 80% no mercado norte-americano.
Na avaliação de Allan Paladino, co-fundador e CEO da Lastro, as barreiras a serem vencidas no Brasil para uma adoção mais abrangente da IA são muito parecidas com as barreiras que existem na Europa e nos EUA.
Paladino participou de um painel sobre “Novas possibilidades que a inteligência artificial nos propõe”, ao lado de Denis Bistaffa, fundador da Roboticon, e Marcus Vinicius Bianchini, diretor de produtos do Grupo OLX. Ele identificou dois grandes pontos de atenção a serem superados: em primeiro lugar, romper com a ideia de que a IA fará tudo do jeito que se deseja. Na verdade, “ela é como um novo funcionário, com o qual você precisa aprender a conviver”, isto é, você precisa adaptar processos e aprender a interagir com as ferramentas de IA.
Em segundo lugar, soluções de inteligência artificial integradas aos processos das empresas não vêm prontas “de fábrica”. Elas precisam ser treinadas, avaliadas, reconfiguradas para atingir seu pleno potencial de resultado. A avaliação de Allan Paladino ecoa algo dito por Roberto Prado, da Google Brasil: “Se você ensina porcaria para a IA, sai porcaria. É como treinar pessoas.”
Fator humano continua indispensável
Prado também comentou que a IA chegou para “potencializar relações, não substituir”. Essa foi outra ideia prevalente durante o Conecta Imobi 2025: com a IA agilizando processos, iniciando atendimentos, filtrando e qualificando leads, cresce a importância do corretor como alguém que compreende as dores do cliente e acompanha sua jornada de consumo.
Peixoto Accyoli, por exemplo, CEO da RE/MAX Brasil, enfatizou o papel do corretor como “representante” de seus clientes, “quase como um advogado”. Já Ely Wertheim, presidente executivo do Secovi-SP, que participou de um painel ao lado de Manuel Siqueira, gerente sênior do Bradesco, e Rafael Ursaia, superintendente de Negócios imobiliários no Itaú Unibanco, afirmou que o corretor na era da IA é quem injeta “confiança” na jornada.
O sentido das falas é o mesmo: num mercado imobiliário cada vez mais digitalizado, a inteligência artificial é uma revolução inevitável que abre espaço para ganhos de eficiência, mas também para que o talento dos profissionais do setor brilhe com ainda mais destaque. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
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