As negociações coletivas têm se tornado um retrato fiel do clima dentro das empresas. Um dado levantado pelo Radar Sindical, startup brasileira de inteligência em relações de trabalho, mostra que 60% dos acordos que enfrentaram resistência estavam ligados a problemas internos de insatisfação não percebidos pelas lideranças.
Isso ajuda a explicar por que tantos processos de negociação se transformam em embates desgastantes. Muitas vezes, o momento de discutir cláusulas coletivas acaba funcionando como a primeira oportunidade em que as tensões acumuladas ganham visibilidade.
O dado do Radar Sindical se conecta com levantamentos de diferentes instituições. O IBGE mostra que, em 2023, o rendimento médio do trabalhador brasileiro ficou em R$ 2.890, valor muito distante segundo o cálculo do Dieese sobre o salário necessário para suprir uma família de quatro pessoas, estimado em R$ 6.528,93.
Essas diferenças de renda ajudam a entender a insatisfação que se acumula entre os trabalhadores. Além disso, dados do Dieese apontam que 7,5% dos ocupados no país estavam subutilizados por insuficiência de horas já em 2019, um indicador de precarização das condições de trabalho.
No cenário global, a Organização Internacional do Trabalho OIT reforça que a falta de participação dos empregados nas decisões aumenta a chance de impasses em negociações. Já países com maior cobertura de acordos coletivos conseguem reduzir desigualdades salariais e manter as relações mais equilibradas.
Nesse contexto, o Radar Sindical atua como uma worktech que organiza informações sobre acordos coletivos e negociações em todo o país. A plataforma permite que empresas planejem suas estratégias com base em dados e indicadores trabalhistas, antecipando riscos de desgaste nas relações de trabalho.
Segundo João Gazzoli, sócio-fundador da startup, a tecnologia ajuda a revelar pontos que antes passavam despercebidos.
“Nosso levantamento mostra que grande parte das negociações difíceis não acontece por causa de um único ponto de pauta. Elas refletem insatisfações já presentes no dia a dia das equipes, que não foram identificadas ou tratadas a tempo.”
As negociações acabam funcionando como um espelho da relação entre empresas e trabalhadores. Quando há canais de diálogo, os processos costumam avançar de maneira mais construtiva. Quando esses canais não existem, os acordos se transformam em arenas para problemas que já estavam presentes, apenas adormecidos pela rotina diária.
Para Gazzoli, essa leitura é fundamental para gestores de RH e relações trabalhistas.
“A negociação coletiva é um espelho da empresa. Se há diálogo interno, ela flui de forma construtiva. Quando esse diálogo não existe, a negociação tende a expor problemas que já estavam latentes.”
O Brasil tinha em 2024 cerca de 100 milhões de pessoas ocupadas e 8 milhões desocupadas, segundo dados do Ministério do Trabalho (MTE) e do Dieese. Esse quadro mostra a pressão que empresas e sindicatos enfrentam.
Para reduzir tensões, será cada vez mais necessário combinar ferramentas de análise de dados com políticas de escuta interna e participação dos trabalhadores. Assim, as negociações coletivas podem deixar de ser espaços de confronto e se tornar oportunidades reais de construção. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
DANIEL CORREA RODRIGUES
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