A tecnologia é apontada como uma das principais culpadas pela deterioração da saúde mental das pessoas, principalmente no ambiente de trabalho. Afinal, com a conexão constante, o expediente passou a invadir o tempo pessoal — e-mails fora de hora, mensagens urgentes no grupo da empresa e uma rotina em que a mente parece nunca “desligar”.
Mas se, de um lado, a transformação digital contribuiu para o aumento da ansiedade e da sobrecarga, do outro, ela começa a emergir como uma solução poderosa para enfrentar justamente esses impactos. É o que se vê principalmente após a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passou a incluir os riscos psicossociais, como estresse, esgotamento e burnout, entre as responsabilidades legais das organizações.
“A tecnologia, se bem usada, pode promover ambientes psicologicamente seguros e saudáveis. Mas ainda é subutilizada pelas empresas por desconhecimento ou resistência à mudança”, afirma Fernando Luiz, Diretor Comercial da Witec IT Solutions.
Nova legislação, novos desafios
A NR-1 estabelece diretrizes gerais para a gestão de riscos ocupacionais e tornou obrigatória a criação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). A grande novidade é que agora ela também exige que empresas mapeiem e atuem sobre riscos relacionados à saúde emocional dos trabalhadores.
Segundo Fernando Luiz, isso representa um avanço importante na forma como se enxerga o bem-estar corporativo. “A saúde mental ganhou protagonismo, refletindo as novas demandas de um mundo corporativo mais conectado, acelerado e remoto”, destaca.
É nesse cenário que as ferramentas digitais e a Inteligência Artificial (IA) ganham protagonismo. Aplicativos, sensores e plataformas de análise de dados se tornaram grandes aliados na construção de ambientes mais saudáveis — e no cumprimento da legislação.
Do monitoramento ao suporte emocional
Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, explica que a adoção de novas tecnologias no contexto da saúde ocupacional exige cuidado e alinhamento com a legislação vigente. “As empresas precisam se adequar a uma nova tecnologia, e no âmbito da saúde e medicina do trabalho, todas as ações devem estar alinhadas com as regulamentações e devem ser registradas para casos de fiscalizações”, orienta.
Ferramentas do dia a dia, como as disponíveis no pacote Microsoft 365, podem parecer simples, mas escondem funcionalidades poderosas. O Microsoft Viva Insights, por exemplo, ajuda a identificar padrões de sobrecarga e sugere pausas e momentos de foco ao longo do dia. Já o Teams permite silenciar notificações fora do horário de trabalho, enquanto o MyAnalytics analisa como o tempo está sendo utilizado e quais atividades consomem mais energia.
Essas soluções não apenas ajudam a melhorar a organização pessoal e reduzir o estresse, como também são capazes de fornecer dados valiosos para gestores preocupados com a saúde das suas equipes.
Exemplos práticos e resultados
Grandes empresas já perceberam o potencial dessas ferramentas e vêm investindo em estratégias digitais para promover o bem-estar. A Unilever, por exemplo, utiliza o Viva Insights para entender rotinas de trabalho prejudiciais. A Accenture recorreu ao Viva Learning para treinar colaboradores em práticas como mindfulness e técnicas de relaxamento. Já a Deloitte e a própria Microsoft vêm utilizando o Viva Engage como espaço para conversas abertas sobre saúde mental, fortalecendo o senso de comunidade.
A Inteligência Artificial também vem sendo aplicada de maneira estratégica. Startups como a Fiter desenvolveram plataformas que mapeiam riscos psicológicos por cargo e propõem ações específicas. Já a plataforma SOC cruza dados de saúde, produtividade e absenteísmo para sinalizar possíveis problemas antes que eles se agravem. Outras soluções incluem sensores ambientais, apps de meditação, terapia online e até simulações em realidade virtual para treinar resiliência emocional.
Um investimento que vale a pena
Os números comprovam o retorno. Segundo um estudo do Gympass, 90% das empresas que investiram em programas de bem-estar e monitoramento observaram melhorias concretas. Já o levantamento do Wellhub mostra que praticamente todas as organizações que adotaram soluções digitais relataram aumento no engajamento e redução nos custos com saúde.
Além do ROI (Retorno sobre Investimento), as empresas também passam a observar o VOI (Valor sobre Investimento) — uma métrica que leva em conta não apenas o impacto financeiro, mas também o ganho em clima organizacional, retenção de talentos e produtividade.
Desafios e caminhos
Claro que nem tudo se resume a adotar ferramentas. A implementação bem-sucedida exige planejamento, diagnóstico adequado, treinamento das equipes e um acompanhamento contínuo. “Não basta instalar um software”, lembra Fernando Luiz. “É preciso entender as necessidades reais da organização e garantir que a tecnologia seja integrada à cultura da empresa.”
Outro ponto de atenção é a privacidade dos dados, especialmente quando se trata de informações sensíveis relacionadas à saúde mental. As empresas precisam garantir confidencialidade e ética no uso das tecnologias, sob pena de gerar desconfiança e até problemas legais.
Ainda assim, os benefícios superam os desafios. “As empresas que começarem agora estarão mais preparadas para o futuro do trabalho — que é, acima de tudo, humano e sustentável”, conclui Fernando Luiz.
Uma cultura mais humana e inteligente
Mais do que uma exigência legal, a NR-1 reforça um compromisso com o cuidado integral dos trabalhadores. A tecnologia, quando bem utilizada, pode ser a ponte entre a obrigação e a ação concreta. E mais: tem o potencial de transformar culturas corporativas inteiras.
Num mundo onde o trabalho segue cada vez mais digital, a solução para o adoecimento pode vir do mesmo lugar: da tecnologia — agora voltada não apenas à produtividade, mas ao cuidado com as pessoas.
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Paulo Fabrício Ucelli
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