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Tecnologia pode ser vilã ou aliada da saúde mental dos trabalhadores

Mas se, de um lado, a transformação digital contribuiu para o aumento da ansiedade e da sobrecarga, do outro, ela começa a emergir como uma solução

PAULO UCELLI
04/09/2025 14h53 - Atualizado há 1 dia
Tecnologia pode ser vilã ou aliada da saúde mental dos trabalhadores
Divulgação

A tecnologia é apontada como uma das principais culpadas pela deterioração da saúde mental das pessoas, principalmente no ambiente de trabalho. Afinal, com a conexão constante, o expediente passou a invadir o tempo pessoal — e-mails fora de hora, mensagens urgentes no grupo da empresa e uma rotina em que a mente parece nunca “desligar”.

Mas se, de um lado, a transformação digital contribuiu para o aumento da ansiedade e da sobrecarga, do outro, ela começa a emergir como uma solução poderosa para enfrentar justamente esses impactos. É o que se vê principalmente após a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passou a incluir os riscos psicossociais, como estresse, esgotamento e burnout, entre as responsabilidades legais das organizações.

“A tecnologia, se bem usada, pode promover ambientes psicologicamente seguros e saudáveis. Mas ainda é subutilizada pelas empresas por desconhecimento ou resistência à mudança”, afirma Fernando Luiz, Diretor Comercial da Witec IT Solutions.

Nova legislação, novos desafios

A NR-1 estabelece diretrizes gerais para a gestão de riscos ocupacionais e tornou obrigatória a criação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). A grande novidade é que agora ela também exige que empresas mapeiem e atuem sobre riscos relacionados à saúde emocional dos trabalhadores.

Segundo Fernando Luiz, isso representa um avanço importante na forma como se enxerga o bem-estar corporativo. “A saúde mental ganhou protagonismo, refletindo as novas demandas de um mundo corporativo mais conectado, acelerado e remoto”, destaca.

É nesse cenário que as ferramentas digitais e a Inteligência Artificial (IA) ganham protagonismo. Aplicativos, sensores e plataformas de análise de dados se tornaram grandes aliados na construção de ambientes mais saudáveis — e no cumprimento da legislação.

Do monitoramento ao suporte emocional

Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, explica que a adoção de novas tecnologias no contexto da saúde ocupacional exige cuidado e alinhamento com a legislação vigente. “As empresas precisam se adequar a uma nova tecnologia, e no âmbito da saúde e medicina do trabalho, todas as ações devem estar alinhadas com as regulamentações e devem ser registradas para casos de fiscalizações”, orienta.

Ferramentas do dia a dia, como as disponíveis no pacote Microsoft 365, podem parecer simples, mas escondem funcionalidades poderosas. O Microsoft Viva Insights, por exemplo, ajuda a identificar padrões de sobrecarga e sugere pausas e momentos de foco ao longo do dia. Já o Teams permite silenciar notificações fora do horário de trabalho, enquanto o MyAnalytics analisa como o tempo está sendo utilizado e quais atividades consomem mais energia.

Essas soluções não apenas ajudam a melhorar a organização pessoal e reduzir o estresse, como também são capazes de fornecer dados valiosos para gestores preocupados com a saúde das suas equipes.

Exemplos práticos e resultados

Grandes empresas já perceberam o potencial dessas ferramentas e vêm investindo em estratégias digitais para promover o bem-estar. A Unilever, por exemplo, utiliza o Viva Insights para entender rotinas de trabalho prejudiciais. A Accenture recorreu ao Viva Learning para treinar colaboradores em práticas como mindfulness e técnicas de relaxamento. Já a Deloitte e a própria Microsoft vêm utilizando o Viva Engage como espaço para conversas abertas sobre saúde mental, fortalecendo o senso de comunidade.

A Inteligência Artificial também vem sendo aplicada de maneira estratégica. Startups como a Fiter desenvolveram plataformas que mapeiam riscos psicológicos por cargo e propõem ações específicas. Já a plataforma SOC cruza dados de saúde, produtividade e absenteísmo para sinalizar possíveis problemas antes que eles se agravem. Outras soluções incluem sensores ambientais, apps de meditação, terapia online e até simulações em realidade virtual para treinar resiliência emocional.

Um investimento que vale a pena

Os números comprovam o retorno. Segundo um estudo do Gympass, 90% das empresas que investiram em programas de bem-estar e monitoramento observaram melhorias concretas. Já o levantamento do Wellhub mostra que praticamente todas as organizações que adotaram soluções digitais relataram aumento no engajamento e redução nos custos com saúde.

Além do ROI (Retorno sobre Investimento), as empresas também passam a observar o VOI (Valor sobre Investimento) — uma métrica que leva em conta não apenas o impacto financeiro, mas também o ganho em clima organizacional, retenção de talentos e produtividade.

Desafios e caminhos

Claro que nem tudo se resume a adotar ferramentas. A implementação bem-sucedida exige planejamento, diagnóstico adequado, treinamento das equipes e um acompanhamento contínuo. “Não basta instalar um software”, lembra Fernando Luiz. “É preciso entender as necessidades reais da organização e garantir que a tecnologia seja integrada à cultura da empresa.”

Outro ponto de atenção é a privacidade dos dados, especialmente quando se trata de informações sensíveis relacionadas à saúde mental. As empresas precisam garantir confidencialidade e ética no uso das tecnologias, sob pena de gerar desconfiança e até problemas legais.

Ainda assim, os benefícios superam os desafios. “As empresas que começarem agora estarão mais preparadas para o futuro do trabalho — que é, acima de tudo, humano e sustentável”, conclui Fernando Luiz.

Uma cultura mais humana e inteligente

Mais do que uma exigência legal, a NR-1 reforça um compromisso com o cuidado integral dos trabalhadores. A tecnologia, quando bem utilizada, pode ser a ponte entre a obrigação e a ação concreta. E mais: tem o potencial de transformar culturas corporativas inteiras.

Num mundo onde o trabalho segue cada vez mais digital, a solução para o adoecimento pode vir do mesmo lugar: da tecnologia — agora voltada não apenas à produtividade, mas ao cuidado com as pessoas.


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Paulo Fabrício Ucelli
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