A SP-Arte Rotas encerrou sua quarta edição com saldo positivo, reafirmando seu papel como uma das principais plataformas de circulação artística de ideias e de obras de arte do país. Realizada entre 27 e 31 de agosto, na ARCA, em São Paulo, a feira recebeu 65 expositores — entre galerias, museus e projetos especiais — de 12 estados do país, além de representantes da Argentina e da Amazônia Peruana.
O público teve acesso a obras de mais de 200 artistas que exploraram temas como erotismo, território e questões ambientais em diferentes suportes — pintura, escultura, cerâmica e trabalhos têxteis. A feira reforçou seu caráter como espaço de descobertas, conexões e trocas.
Para Fernanda Feitosa, fundadora e diretora da SP-Arte e SP-Arte Rotas: “Rotas se fortaleceu como um movimento muito necessário de valorização da arte brasileira e, de maneira mais ampla, latino-americana em suas vertentes geográficas e culturais. A feira celebra essa diversidade e promove intercâmbios entre artistas, galerias, curadores e colecionadores, criando oportunidades para todos, com olhares nacionais e internacionais encantados pelo que encontram pelos corredores do evento”.
A internacionalização foi um dos pontos altos desta edição, com a presença de curadores, críticos e colecionadores de destaque vindos de fora do Brasil, mais do que dobrando o número de convidados estrangeiros em relação ao ano anterior. Entre eles estavam: Lucas Morin (Jameel Arts Centre, Dubai); Vivian Crockett (New Museum, Nova Iorque); Larry Ossei-Mensah (Artnoir) e Jennifer Inacio (Pérez Art Museum, Miami). Também retornaram à feira, pelo segundo ano consecutivo, o colecionador David Teplitzky e Will Palley, apresentador do podcast Art From the Outside. A presença internacional reforçou o papel estratégico da feira na abertura de novos diálogos entre a cena brasileira e instituições globais.
Galerias celebram bons resultados
Os participantes desta quarta edição destacaram a qualidade do público e o desempenho de vendas da feira. A mineira Mitre, que inaugurou sede em São Paulo recentemente, relatou saldo positivo: “Percebo um crescimento não só de público, mas também um entendimento maior das galerias sobre como e quais projetos trazer para a feira. Gostei muito da mudança de nome e da expansão para a América Latina. A gente conseguiu apresentar alguns artistas que muita gente em São Paulo não conhecia, como Benedikt Wiertz. Trouxemos alguns trabalhos da Luana Vitra que estavam em museus internacionais, como o Sculpture Center, e mostramos o programa como um todo. Para nós, o resultado foi super positivo. A galeria vendeu praticamente todos os artistas que trouxe", afirma o proprietário Rodrigo Mitre.
A galeria Paulo Darzé, de Salvador, apresentou projetos de Goya Lopes, Nádia Taquary e um solo do ceramista Almir Lemos. O resultado superou as expectativas, segundo a diretora Thais Darzé: “Sempre vamos bem em Rotas. E, neste ano, em termos de resultado, foi o melhor. No solo de Almir, vendemos 100% das obras expostas e mais algumas que estavam em Salvador. Podemos dizer que tivemos um aproveitamento de 120%. Já no estande com trabalhos de Lopes e Taquary, vendemos a maioria das obras que levamos. O resultado é muito satisfatório”. A galerista destacou ainda que o evento abre novas frentes e traz novos clientes.
Para o cearense Leonardo Leal, dono da galeria homônima, a feira é a sua preferida no calendário: “O desempenho deste ano foi uma grata surpresa, e continuo apostando nela. Vendemos mais de 40 obras, tivemos outras reservadas e algumas negociações que ficaram para o pós-evento. No ano que vem teremos, de novo, uma grande feira”.
A paulistana Mendes Wood DM, que estreou na SP-Arte Rotas, também celebrou: “Ficamos muito felizes em nossa primeira participação. A feira é muito agradável. Podemos dizer que, em termos gerais, foi um sucesso. Conseguimos comercializar as obras de todos os artistas que estavam no projeto, incluindo a peça central em larga escala, de Solange Pessoa", contou Arnon Lintz, diretor de vendas. O galerista também destacou a curadoria de Rodrigo Moura no setor Mirante, que tornou a experiência ainda mais dinâmica.
Segundo Fabio Frayha, sócio da Gomide&Co: “Ficamos mais uma vez bastante satisfeitos em participar da feira. Ela tem um formato muito interessante e a qualidade dos estandes reflete esse cuidado curatorial. Comercialmente fomos muito bem, vendemos boa parte da nossa seleção de obras”.
Programação
O Palco SP-Arte promoveu diálogos entre artistas, curadores e especialistas entre os dias 28 e 30 de agosto, privilegiando a troca direta com o público, sem transmissão ou gravação. Entre os destaques, a conversa de Rebeca Carapiá com Deri Andrade; o debate “Para além da visão”, com Vivian Caccuri e Karola Braga; e a mesa “O reencontro com Otto Stupakoff”, com Bob Wolfenson e Rubens Fernandes.
A agenda internacional trouxe a mesa “Latin American Art in a Global Context”, com Vivian Crockett, Eugenio Viola, Larry Ossei-Mensah e Margot Norton. Houve ainda discussões sobre a internacionalização da arte brasileira, conduzidas por Tiago Mestre e Edu Silva, e reflexões sobre a criação do Museu Vassouras. Nomes como Rodrigo Moura, Paloma Bosquê, Patricia Leite, Ana Prata, Edmar Pinto Costa, Alexandre Martins Fontes, Lucas Albuquerque e Fernão Cruz participaram de encontros que abordaram desde a força da arte popular até experimentações contemporâneas.
A Vivo, patrocinadora master da SP-Rotas, apresentou a instalação “Nheengatu”, um convite à escuta das vozes da floresta, com curadoria de Denilson Baniwa. O estande exibiu rádios-postes que, em comunidades indígenas ou periféricas, mantém a população informada com notícias importantes. Na feira, as sonoridades eram da floresta: rios, pássaros e vento, além de alertas sobre as questões climáticas. O programa contemplou ainda conversas mediadas entre Karol Desirée e os convidados Daniel Munduruku, Jonaya de Castro, Nele Azevedo, Eduardo Srur, Tainá Marajoara e o próprio Baniwa.
“A receptividade foi incrível e as pessoas permaneciam no lounge em diálogo e interação com os convidados por muito tempo. Por meio desse projeto, a SP-Arte Rotas ofereceu ao público uma conexão forte entre perspectivas identitárias e questões ambientais a partir do território da arte”, comentou Mirtes Oliveira, curadora dos diálogos que aconteceram no espaço da Vivo.
Sob nova direção artística em 2026 Para a próxima edição, que acontecerá de 26 a 30 de agosto de 2026, a SP-Arte Rotas terá o curador, escritor e pesquisador brasileiro Bernardo Mosqueira como diretor artístico. Sua missão será prosseguir com a consolidação do evento que destaca a arte brasileira, além de
atuar na diluição de fronteiras com outros países da América Latina. Mosqueira sucede a Rodrigo Moura, que esteve à frente das duas últimas edições e, em 2024, assumiu a curadoria-chefe do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba).
Vivendo entre o Rio de Janeiro e Nova York, Mosqueira é fundador e diretor artístico do Solar dos Abacaxis, no Rio de Janeiro, desde 2015. Foi curador-chefe do Institute for Studies on Latin American Art (ISLAA), em Nova York (2023–25), e integrou a equipe curatorial do New Museum (2021–23).
Reconhecido internacionalmente, recebeu em 2025 o Vilcek Prize for Creative Promise in Curatorial Work e, em 2017, o Prêmio Lorenzo Bonaldi per l’Arte, do GAMeC, em Bérgamo, Itália. Em 2023, a revista Cultured o destacou como um dos seis “curadores visionários” em sua lista anual Young Curators. É mestre em estudos curatoriais pelo Center for Curatorial Studies, Bard College (CCS Bard).
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
BRUNA FERNANDA LIRA OLIVEIRA
[email protected]