Google ativa Modo IA no Brasil e coloca em risco modelo que sustentou a internet por 20 anos

29/09/2025 07h04 - Atualizado há 3 horas

O Google começou a liberar neste mês o chamado “Modo IA” no Brasil. O recurso passa a mostrar respostas prontas, escritas por inteligência artificial, no topo da busca. A mudança pode parecer apenas conveniência, mas ameaça o modelo que sustentou o jornalismo digital e a produção de conteúdo na internet por duas décadas.

Desde o início dos anos 2000, sites, blogs e portais cresceram baseados em tráfego. O usuário buscava uma informação, clicava no link e, ao consumir o conteúdo, era impactado também pela publicidade. Foi esse arranjo que deu origem a um mercado bilionário, sustentado por Google e Meta, com profissionais de SEO, marketing digital e toda uma cadeia de negócios girando em torno do clique.

Esse ciclo está ameaçado. “A lógica muda quando a navegação deixa de ser feita por links e passa a ser mediada por modelos de linguagem. Antes o usuário clicava em uma notícia. Agora recebe a resposta pronta de uma IA”, explica Arthur Santini, especialista em tecnologia e associado da Apeti.

O risco é simples: sem clique, não há audiência. Sem audiência, não há receita publicitária. “Todo o mercado de produção de conteúdo nasceu para gerar tráfego e monetizar com publicidade. Se isso quebra, muitos podem parar de produzir ou se concentrar em grandes grupos”, afirma Santini.

O problema não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa, veículos já processam big techs pelo uso de conteúdo jornalístico em sistemas de IA sem remuneração. Dados da Similarweb apontam que, por enquanto, não houve queda expressiva no tráfego geral, mas sites de tecnologia foram os mais beneficiados, enquanto portais de notícias e educação aparecem como os mais ameaçados. A Fast Company Brasil classificou os resumos de IA como “o novo campo de batalha da mídia” (Fontes: Similarweb/InfoMoney e Fast Company Brasil).

Santini alerta que a disputa vai além do Google. “O Perplexity já nasceu com essa proposta, o ChatGPT vem evoluindo nessa direção e navegadores como o Comet também mudam a forma de acessar informação. O desafio agora é como criadores vão se manter relevantes quando o intermediário passa a ser uma IA”, diz.

Na prática, a estreia do Modo IA mostra que a internet atravessa uma ruptura: o que antes era disputa por posição no topo da busca agora é luta para não desaparecer em um resumo automático. O impacto sobre o jornalismo e sobre quem depende de audiência digital já começou a ser sentido.

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Henrique Fernandes
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