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O que explica a realidade de milhões de brasileiros que vivem com meio salário mínimo?

Sem infraestrutura e investimentos, estados do Nordeste ficam presos ao ciclo da pobreza, explica advogado

G.F comunicação
25/09/2025 15h15 - Atualizado há 3 horas
O que explica a realidade de milhões de brasileiros que vivem com meio salário mínimo?
Maria hsu/ flickr

Apesar do aumento da renda média no país, milhões de brasileiros ainda vivem com valores próximos ou equivalentes a meio salário mínimo. Segundo dados do IBGE (2024), o rendimento domiciliar per capita no Brasil foi de R$ 2.069, mas os números escondem desigualdades regionais profundas: enquanto o Distrito Federal alcança R$ 3.444 por pessoa, o Maranhão registra apenas R$ 1.077 o menor do país.


No Piauí, o rendimento médio foi de R$ 1.349², valor menor que o salário mínimo nacional de 2024 (R$ 1.412³). Isso significa que, em famílias numerosas, a renda por pessoa acaba sendo equivalente a menos de meio salário mínimo. 


Por que isso acontece:


Especialistas apontam três fatores principais para explicar o fenômeno: 

​1.​Alta informalidade: O Brasil tem uma taxa de informalidade de cerca de 39%, mas no Piauí ela chega a 54,6%⁴, uma das maiores do país. Sem carteira assinada, os trabalhadores recebem menos e não contam com benefícios. 

​2.​Baixa produtividade e economia pouco diversificada: Enquanto regiões como o Sudeste concentram indústrias e serviços de alta remuneração, estados do Norte e Nordeste ainda dependem fortemente de atividades rurais ou de baixa complexidade, que pagam menos. 

​3.​Educação e desigualdade estrutural: Menor acesso à educação de qualidade e a oportunidades de qualificação profissional limita a inserção da população em empregos mais bem remunerados. 


Segundo o advogado eleitoral Wallyson Soares, isso acontece porque não houveram investimentos necessários na criação de uma infra estrutura capaz de acompanhar um desenvolvimento ocorrido em outros estados. Essa realidade é resultado de um conjunto de fatores:

“Ela é refletida pela cultura, pela deficiência dos órgãos fiscalizadores e também por uma economia frágil. Soma-se a tudo isso o pouco incentivo às cadeias produtivas que o Piauí dispõe.”



Um retrato nacional da desigualdade


O contraste regional é evidente. Enquanto no Nordeste o rendimento domiciliar per capita médio foi de R$ 1.341¹ em 2024, no Centro-Oeste chegou a R$ 2.399¹. Wallyson explica que o rendimento tem haver com desenvolvimento: “Que o sudeste e centro-oeste partiram na frente, isso já sabemos, o que precisamos é superar essas distorções, e só é possível superá-las se houver uma atenção especial ao Nordeste, e principalmente aos estados onde os problemas sociais são mais graves, como o Piauí, e essa atenção deve partir do governo federal alinhados com os Estaduais com políticas e investimentos que descolem a região dessa realidade”.

 

A diferença tem origem histórica, mas é reforçada pela ausência de políticas públicas consistentes:

“Isso deve-se inicialmente a fatores históricos e, posteriormente, como na fase atual, à ausência de investimentos no Nordeste em todas as áreas e não só nas produtivas, mas também em áreas tecnológicas e industriais. E tudo isso se deve a fatores políticos”, explica.


Ele acrescenta que a desigualdade não se reflete apenas no bolso das famílias, mas em todo o acesso a direitos:

“Isso é um efeito dominó. A educação no Piauí é bastante afetada. Percebe-se isso principalmente quando jovens atingem o ensino médio: há uma evasão muito grande porque não têm perspectiva, não sabem para onde estão indo”.

 

Para a população de baixa renda, a dificuldade também passa pelo acesso a serviços básicos, como a saúde. A maioria depende exclusivamente da rede pública, que enfrenta dificuldades estruturais e não consegue atender a todos de forma adequada. Nesse contexto, muitas famílias acabam sem assistência especializada: “Temos, por exemplo, várias mães que têm filhos autistas, mas que sequer têm acesso a um neurologista, porque essa especialidade só é encontrada na rede privada”, afirma o advogado.


A restrição também chega à alimentação. Com rendimentos tão baixos, o que deveria ser destinado a uma dieta equilibrada torna-se insuficiente até para necessidades básicas: “Com essa renda, pouca coisa dá para comprar para comer, vestir e buscar algum tipo de lazer”, completa o especialista.


O desafio para o futuro


O cenário indica que, embora o Brasil tenha ampliado a renda média, a pobreza persiste em estados como Maranhão, Piauí, Alagoas e Amazonas, onde grande parte da população vive com menos da metade da renda de regiões mais ricas. O desafio, segundo pesquisadores do Ipea e do IBGE, é promover crescimento econômico regional, reduzir a informalidade e ampliar a qualificação profissional. 


Para Wallyson Soares, enfrentar esse cenário não passa por soluções imediatas, mas sim por medidas estruturais capazes de transformar a realidade econômica do Piauí e de outros estados em situação semelhante. Ele aponta que o primeiro passo é fortalecer a fiscalização no mercado formal, garantindo que os trabalhadores recebam salários compatíveis e direitos assegurados.


Outro ponto é a intervenção do Estado na criação de uma infraestrutura capaz de gerar frentes de trabalho e atrair investimentos: “A construção de estradas, redes de abastecimento de água, esgoto, energia, expansão da internet são essenciais para despertar o interesse de investidores e instalar empresas que gerem renda”, afirma.


O desenvolvimento também passa pelo fortalecimento da agricultura voltada para o mercado interno, pelo fomento profissional às cadeias produtivas e, principalmente, pelo investimento em educação: “O apoio à agricultura pensando no mercado interno também é uma alternativa importante, que o Estado precisa fomentar de forma prioritária. Outro viés é o fomento às cadeias produtivas, que precisa ser feito de forma profissional. E, por fim, o investimento na educação é essencial para que haja uma virada de página”, conclui. 



No curto prazo, programas de transferência de renda continuam sendo essenciais para garantir a sobrevivência de milhões de famílias. Mas, sem mudanças estruturais, a realidade de sobreviver com meio salário mínimo permanecerá como uma marca da desigualdade brasileira.


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LETICIA SOARES GRAF
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