A trajetória da escritora mineira Marília Dan mostra como uma experiência pessoal pode se transformar em ações de impacto social. Depois de anos convivendo com alucinações auditivas, ouvindo vozes dentro da própria cabeça, Marília recebeu o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar com sintomas psicóticos. Transformou essa vivência em livro e também em palestras que ampliam o debate sobre saúde mental. Em 2024, mais de 51 mil afastamentos do trabalho no Brasil foram associados ao transtorno bipolar, segundo dados do Ministério da Previdência Social, que mostram o avanço dos casos de transtornos mentais.
Em 2020, Marília lançou o livro “As Vozes na Minha Cabeça: minha história com o transtorno bipolar”, no qual relata desde os primeiros episódios em que acreditava ouvir vozes de um vizinho, até a longa trajetória que passou por diferentes diagnósticos e internação. Na obra, que já impactou centenas de leitores, e ganhará nova edição em outubro de 2025, narra os dilemas enfrentados ao longo dos anos sem tratamento adequado e estigmas.
Além da literatura, Marília compartilha sua experiência em palestras realizadas em escolas, empresas e espaços culturais. Na apresentação “Marília Dan e a Saúde Mental no Cinema”, utiliza representações artísticas para discutir resiliência e qualidade de vida. “O diagnóstico não define quem somos. Minha escrita e minhas palestras são formas de mostrar que é possível encontrar caminhos de bem-estar e sentido, mesmo diante de uma condição psiquiátrica”, afirma.
Marília começou a ouvir vozes ainda na adolescência, aos 14 anos, quando estava na escola, fase em que muitas meninas enfrentam dilemas emocionais sem o devido acolhimento. Sua história conecta-se a um quadro preocupante: a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019 mostrou que, entre adolescentes de 13 a 17 anos, 27% das meninas avaliaram negativamente sua saúde mental, contra 8,6% dos meninos. Além disso, 48% delas relataram sentir-se frequentemente tristes e 29,6% afirmaram já ter sentido que a vida não valia a pena ser vivida. Os números mostram a necessidade de iniciativas que ampliem o diálogo e promovam ambientes mais seguros, como o Projeto de Lei 329/2025, que tramita na Câmara dos Deputados e propõe a criação da Política Nacional de Promoção de Fatores de Proteção da Saúde Mental de Meninas.
Enquanto o debate público avança, Marília também vive uma nova fase. Ela não ouve mais vozes e não tem crises desde que saiu da clínica psiquiátrica. Atualmente, celebra conquistas na vida pessoal, que vão além da saúde. Sempre com bom humor, inspira quem acompanha sua história a acreditar que é possível construir uma vida plena e feliz mesmo diante de um diagnóstico psiquiátrico. “A maior mensagem que quero deixar é que a felicidade é possível. Sou noiva, mãe de um filho adotivo e levo comigo a certeza de que a vida pode ser bonita mesmo com os desafios de um transtorno. Com o livro, registrei minha história para que as pessoas se identifiquem; já com a palestra, quero levá-la para todo o Brasil e alcançar famílias que precisam de apoio para lidar com essas questões de forma mais leve”, finaliza.
Sobre Marília Dan
Marília Dan é escritora, palestrante e ativista em saúde mental. Natural de Belo Horizonte (MG), passou um longo período convivendo com sintomas não identificados e sem tratamento adequado, até receber, aos 20 anos, o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar com sintomas psicóticos. Transformou essa vivência em literatura e palestras, que mostram ser possível alcançar qualidade de vida e bem-estar emocional. Autora do livro “As Vozes na Minha Cabeça: minha história com o transtorno bipolar (2020)”, que ganhará nova edição em outubro de 2025, ela também iniciou a escrita de sua terceira obra, inspirada nos 57 dias de internação voluntária em um hospital psiquiátrico. Em sua palestra “Marília Dan e a Saúde Mental no Cinema”, conecta a própria trajetória a referências cinematográficas para promover reflexões sobre cuidado emocional, prevenção e enfrentamento de desafios.
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LILIAN DA CRUZ
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