As barreiras que afastam meninas da educação no Brasil
LUIZ VALLOTO
15/10/2025 11h49 - Atualizado há 21 horas
Afesu
*Por Ane Peloso A educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento de uma nação. Capacitar e formar cidadãos faz parte de um planejamento social e estratégico para o futuro de qualquer país. No entanto, o Brasil atravessa uma crise profunda na área: 47% da população já avalia a educação como ruim, segundo o Global Education Monitor. Os desafios são múltiplos, estruturais, pedagógicos, financeiros, sociais e culturais. O país ocupa o 53º lugar no ranking da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), reflexo de uma negligência histórica que afeta, com mais força, as meninas brasileiras. Embora os índices de acesso inicial à escola sejam semelhantes entre meninos e meninas, a permanência do público feminino é consideravelmente mais vulnerável. A PNAD Contínua de 2024 revelou que a gravidez continua sendo um obstáculo significativo à conclusão dos estudos, citada por 23,4% das jovens de 14 a 29 anos que abandonaram a escola — percentual que pouco se alterou desde 2019. A gravidez precoce e as responsabilidades domésticas estão entre os principais motivos da evasão escolar feminina. Aqui, faço uma provocação que vai além dos números, que por si só, já são alarmantes: é preciso retomar a importância da família nesse processo educativo. O adulto (pai, mãe ou cuidador) é quem detém a responsabilidade de compreender os impactos futuros da ausência de educação formal. Quando uma jovem não encontra esse ambiente de orientação dentro de casa, busca apoio em lugares e/ou pessoas que, muitas vezes, não conseguem ajudá-la adequadamente. É urgente que retomemos as rédeas da educação daqueles de quem somos responsáveis. As consequências desse cenário são duradouras. A evasão escolar limita escolhas profissionais, reduz a chance de ingresso no ensino superior e aprofunda o ciclo de pobreza. Sem escolaridade adequada, meninas ficam mais vulneráveis a empregos informais, de baixa remuneração e sem proteção trabalhista, o que perpetua a ideia de que são reféns de suas circunstâncias. Isso compromete sua independência financeira, saúde mental e autoestima, além de aumentar o risco de violência doméstica e exploração. Para a sociedade, a perda é igualmente grave: diminui o potencial produtivo, científico e cultural do país e reforça estereótipos de gênero que afastam mulheres de áreas como ciência, tecnologia e liderança. Reverter esse quadro exige mais do que indignação: demanda ação coordenada entre Estado, sociedade civil e terceiro setor. Experiências já mostram caminhos possíveis. Organizações sociais atuam com programas de apoio pedagógico, orientação profissional e fortalecimento da autoestima de meninas em situação de vulnerabilidade. Políticas públicas também precisam avançar, garantindo creches em tempo integral, bolsas permanência, programas de combate à evasão escolar e campanhas de conscientização sobre gravidez precoce e divisão justa das tarefas domésticas. Nesse contexto, o terceiro setor não se limita a complementar a atuação do Estado. Ele inova, fiscaliza, mobiliza e oferece suporte direto. É nesse encontro entre políticas públicas eficazes e iniciativas sociais transformadoras que está a chave para enfrentar as múltiplas causas da desigualdade de gênero na educação. Reestruturar a educação no Brasil significa criar condições para que meninas possam não apenas sonhar, mas também realizar seus projetos de vida. Significa permitir que elas permaneçam na escola, escolham suas profissões e participem ativamente da construção de um país mais justo, inclusivo e desenvolvido. Sem a presença ativa da família ou do responsável nesse processo, tudo se torna muito mais difícil. Este é um chamado a todos nós. Cada cidadão, família, empresa e instituição tem um papel a desempenhar. Pergunte-se: o que estou fazendo para que nenhuma menina precise escolher entre estudar e sobreviver? Tenho assumido a minha responsabilidade na orientação adequada? A transformação só será possível quando entendermos que investir na educação de meninas não é apenas garantir direitos individuais, mas construir um futuro coletivo mais próspero e igualitário. Investir na educação de meninas muda o mundo. *Ane Peloso é conselheira na Afesu, Diretora Geral no Colégio Catamarã Vita e possui mais de 25 anos de experiencia em educação, gestão de pessoas e processos. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
LUIZ FERNANDO VALLOTO
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