Os números do mercado de trabalho no Brasil expõem um contraste que merece reflexão. Pernambuco registrou, no segundo trimestre de 2025, a maior taxa de desocupação do país: 10,4%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice é quase o dobro da média nacional de 5,8%. No mesmo estado, empresários do polo de confecções do Agreste relatam dificuldades para contratar mão de obra, mesmo diante de milhares de pessoas fora do mercado formal.
Em Santa Catarina, a realidade é oposta. O estado registrou 2,2% de desemprego, o menor índice do país, e tem atraído trabalhadores de diversas regiões com vagas no agronegócio, indústria e serviços. Reconhecido pela força do polo têxtil no Vale do Itajaí, o estado mostra como a combinação entre oferta de empregos e capacidade de contratação pode sustentar o crescimento. Ainda assim, mesmo em um setor que movimentou R$32,9 bilhões em 2024 e emprega 1,3 milhão de trabalhadores formais no país, sobram vagas abertas.
O contraste entre Pernambuco e Santa Catarina revela que o desafio não está apenas na falta de oportunidades, mas na dificuldade de conectar oferta e demanda. Muitos trabalhadores rejeitam vagas por considerar a remuneração insuficiente ou por receio de perder benefícios sociais, como o Bolsa Família. Esse descompasso mostra que precisamos ampliar as alternativas de inserção no mercado.
Uma dessas alternativas é o trabalho temporário. Regulamentado pela Lei 6.019/1974, ele garante direitos como férias e 13º proporcionais, FGTS e INSS, mas com prazo limitado de contrato. Para o trabalhador, isso significa a possibilidade de acessar o emprego formal sem comprometer de forma definitiva o recebimento de programas sociais, já que a renda é considerada apenas durante o período do vínculo.
Além disso, para quem quer voltar efetivamente ao mercado de trabalho, esse modelo permite que os trabalhadores readquiram experiência prática, mantenham suas habilidades atualizadas e aumentem as chances de recolocação. Em muitos casos, a contratação temporária funciona como porta de entrada para posições permanentes, ajudando a encurtar o período de inatividade e evitando o desalento.
Para as empresas, o trabalho temporário é um instrumento de contratação rápida e flexível em momentos de alta demanda, como as safras agrícolas ou as produções sazonais da indústria de confecção. Além disso, representa uma solução estratégica em períodos de incerteza econômica e pode ser utilizado para substituir colaboradores em férias, licença-maternidade ou outras ausências temporárias.
Em minha experiência, vejo o trabalho temporário funcionar como porta de entrada para o mercado formal, reduzindo a informalidade e conectando empresas a profissionais que, muitas vezes, estariam à margem das oportunidades. Mais do que uma solução pontual, é um mecanismo de equilíbrio em cenários extremos, como os de Pernambuco e Santa Catarina: de um lado, alto desemprego e vagas não preenchidas; de outro, pleno emprego e disputa por trabalhadores. Ampliar o uso desse modelo significa aproximar expectativas e necessidades, ajudando a corrigir distorções estruturais do mercado de trabalho brasileiro.
Marcelo de Abreu é presidente da Employer Recursos Humanos, CEO do Banco Nacional de Empregos, diretor de Desenvolvimento Estratégico da Associação Brasileira de Trabalho Temporário, escritor, palestrante e reconhecido pelo LinkedIn como Top Voice de Liderança.
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ANA CRISTINA DA CUNHA SANTOS
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