MENU

4º FliMUJ: Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo debate os caminhos da verdade em tempos de incerteza

De 9 a 12 de outubro, festival reúne nomes como Fania Oz-Salzberger, Eva Illouz, Rutu Modan, Jennifer Teege, Scholastique Mukasonga, Laerte Coutinho, Julian Fuks e Felipe Poroger para refletir sobre memória, literatura e construção coletiva da verdade

BRUNA LIRA
29/09/2025 11h22 - Atualizado há 4 horas
4º FliMUJ: Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo debate os caminhos da verdade em tempos de
Maressa Andrioli

O Museu Judaico de São Paulo anuncia a programação completa da quarta edição do FliMUJ – Festival Literário do MUJ, que acontece entre os dias 9 e 12 de outubro. Reunindo convidados nacionais e internacionais, o evento deste ano propõe um mergulho nos desafios da construção coletiva da verdade, por meio de registros históricos, relatos pessoais, narrativas literárias e diferentes maneiras de lidar com o passado.

A edição é guiada pela pergunta “Emet: A verdade tem começo, meio e fim?”, inspirada na tradição judaica. Em hebraico, a palavra “verdade” (emet, אמת) é formada por letras que simbolizam o início, o meio e o fim do alfabeto, evocando uma visão de continuidade e solidez. Já a “mentira” (sheker, שקר), composta por letras instáveis e sucessivas, representa fragilidade. Nos textos do Talmud e do Midrash, a verdade se constrói coletivamente, em debate e diálogo, e nunca como única revelação.

Entre os destaques internacionais, a escritora e historiadora israelense Fania Oz-Salzberger chega ao Brasil a convite do Instituto Brasil-Israel (IBI) e do MUJ. Autora de Os Judeus e as Palavras, escrito em parceria com seu pai, o romancista Amós Oz, Fania defende que a continuidade do povo judeu se ancora na relação com os textos, a tradição escrita e o debate intelectual.

No âmbito do Ano da França no Brasil, o festival recebe a socióloga franco-israelense Eva Illouz, professora da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Escola de Estudos Avançados em Paris, além de autora de 8 de outubro: genealogia de um ódio virtuoso. Também parte da temporada Brasil-França a escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga, vencedora do Prêmio Renaudot, conhecida por obras como A mulher de pés descalços (2017), Nossa Senhora do Nilo (2017) e Baratas (2018) se junta a Carlos Reiss,   coordenador-geral do Museu do Holocausto,   em reflexão sobre o valor do testemunho e os caminhos de responsabilização, reparação e cura diante de episódios traumáticos.

Outra presença aguardada é a da quadrinista israelense Rutu Modan, autora de álbuns premiados como A Propriedade (2015) e do recém-lançado Túneis (2024), publicados no Brasil pela WMF Martins Fontes. Em seus quadrinhos, Rutu explora com humor e sutileza as tensões do cotidiano israelense. No FliMUJ, ela se encontra com a cartunista brasileira Laerte Coutinho para uma conversa sobre como sátira, ilustração e ironia podem iluminar debates sobre política, identidade e liberdade.

Também integra a programação, a convite do Goethe-Institut, a escritora alemã de ascendência nigeriana Jennifer Teege, conhecida pela autobiografia Amon: Meu Avô Teria Me Executado. No livro, ela relata o impacto de descobrir ser neta de Amon Göth, comandante nazista retratado em A Lista de Schindler. No festival, dialoga com o escritor André de Leones, autor de Meu passado nazista, sobre como o extremismo pode estar mais próximo do que imaginamos — e como ideologias que julgávamos superadas podem ressurgir nos lugares mais inesperados.

A cena brasileira também marca presença de peso: Carol Rodrigues e Felipe Poroger, autor de Alguém sobrevive nesta história (2025), conversam sobre as experiências da geração que cresceu nos anos 1990. Já o premiado Julian Fuks, vencedor do Jabuti com A Resistência (2015), divide mesa com a escritora e pesquisadora Tatiana Salem Levy, autora de A Chave de Casa, em debate mediado por Rita Palmeira.

Completam a programação nomes como Alessandra Orofino, Leonardo Avritzer, Priscila Sztejnman e Renato Nogueira, que trarão olhares diversos para questões urgentes da contemporaneidade.

O acesso às mesas do FliMUJ é gratuito, mas as vagas são limitadas. Os ingressos devem ser retirados antecipadamente, pelo do site Museu Judaico de São Paulo. Caso os ingressos tenham se esgotado online, ainda será possível tentar uma vaga na fila de espera, no local.

 

Programação completa:

 

9 de outubro, quinta

19h - Mesa 1 | Abertura

Quem se importa com palavras?

com Fania Oz-Salzberger

mediação de Laura Capelhuchnik

 

“A continuidade judaica sempre se articulou em palavras”, escrevem a historiadora israelense Fania Oz-Salzberger, e seu pai, o romancista Amós Oz, no livro Os judeus e as palavras. Para os autores, a linhagem judaica não é de sangue, mas de texto. É como se a longevidade e a singularidade do povo judeu dependessem do permanente debate entre gerações. E o que acontece quando o diálogo entra em crise? Quando ninguém mais parece disposto a ouvir? Quando palavras, de tão desgastadas, tornam-se clichês? E quando qualquer coisa que se diga - ou que se escreva - parece insuficiente para transformar a realidade? Na mesa de abertura do Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, Fania Oz-Salzberger reflete sobre identidade judaica, sociedade israelense, o potencial e o limite das palavras.

 

Esta mesa tem o apoio do Instituto Brasil-Israel.


10 de outubro, sexta

15h - Mesa 2

Como as democracias sobrevivem?

com Alessandra Orofino e Leonardo Avritzer

mediação de Thais Bilenky

 

A democracia encontra-se sob enorme pressão, seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa ou em Israel. Alguns autores, inclusive, têm alertado para o fato de que o Estado democrático de direito não é mais derrubado por rupturas violentas, revoluções ou golpes militares. O avanço do autoritarismo tende a ocorrer pelo enfraquecimento de instituições como o judiciário e a imprensa, e pela erosão das normas políticas. O que fazer, então, para frear esse processo? Nesta mesa, a economista, diretora e ativista Alessandra Orofino e o cientista político Leonardo Avritzer convidam a pensar sobre como garantir a vida dos regimes democráticos.

 

 

17h - Mesa 3

Quem nunca?

com Carol Rodrigues e Felipe Poroger

mediação de Bianca Mantovani

 

Memórias de infância e juventude podem ser agradáveis ou embaraçosas. Afinal, essas fases da vida são repletas de incertezas, expectativas e desejos, normalmente acompanhados da sensação de desarranjo - no corpo, na família, no grupo de amigos. Como se não bastasse, o fato de se perceber mulher, ou judeu, acrescenta ingredientes peculiares à experiência do amadurecimento. Nesta mesa, dois autores da mesma geração, cujas obras, cheias de humor e ironia, constituem testemunhos de quem cresceu nos anos 90, conversam sobre o modo pelo qual a identidade torna-se matéria-prima para a escrita, mostrando que vivências pessoais raramente são individuais.


19h - Mesa 4 | Quer que eu desenhe?

com Laerte Coutinho e Rutu Modan

Mediação: Micheline Alves

 

Cartuns, charges e quadrinhos tornaram-se formatos consagrados para contar histórias e fazer críticas sociais. Talvez isso se deva à sua capacidade única de sintetizar mensagens, combinando imagem e palavra, e à presença do humor, que permite aos criadores dizer verdades muitas vezes impronunciáveis. Nesta mesa, duas expoentes da nona arte, a cartunista brasileira Laerte Coutinho e a quadrinista israelense Rutu Modan, conversam sobre ilustração, sátira e política – dentro e fora dos quadrinhos.

 

 

11 de outubro, sábado

11h - Mesa 5

Escrever para fugir ou para voltar?

com Julián Fuks e Tatiana Salem Levy

mediação de Rita Palmeira

 

A violência das ditaduras militares latinoamericanas levou muitas famílias ao exílio, incluindo as de Julián Fuks e de Tatiana Salem Levy, que fizeram da experiência de deslocamento um tema para seus livros. Mas não só. Atravessados pela ascendência judaica e sensíveis a questões sociais urgentes, escrevem como quem confia na palavra para intervir no mundo. Nesta mesa, os premiados autores dialogam sobre memórias familiares, embates entre narrativa e silenciamento e a capacidade da literatura de se haver com a realidade.


15h - Mesa 6

Nós lembramos?

com Carlos Reiss e Scholastique Mukasonga

mediação de João Torquato

 

Ao contrário do que se costuma pensar, o mal raramente é fruto da ação de pessoas inerentemente cruéis. O Holocausto, quando 6 milhões de judeus foram mortos num período de poucos anos, e o genocídio de Ruanda, quando cerca de 800.000 tutsis foram assassinados em apenas três meses, mostraram que pessoas ordinárias, pais de família e trabalhadores podem repentinamente participar do extermínio de seus vizinhos. Nesta mesa Carlos Reiss, Coordenador-Geral do Museu do Holocausto de Curitiba, e Scholastique Mukasonga, nascida em Ruanda e autora da livros sobre o genocídio em seu país natal, dialogam sobre a construção da memória, a importância do testemunho e os processos de responsabilização, reparação e cura após o horror.

 

Esta mesa é organizada no âmbito da Temporada França Brasil com apoio do Institut Français e da Embaixada da França.

 

17h - Mesa 7

O ódio pode ser virtuoso?

com Eva Illouz

mediação de Fábio Zuker

 

As reações aos ataques de 7 de outubro de 2023 chamaram a atenção da socióloga Eva Illouz. Afinal, nos círculos progressistas, o dia seguinte não foi marcado apenas pela solidariedade às vítimas israelenses e inequívoca condenação ao Hamas. Em Nova York, Paris ou São Paulo, muitos celebraram os assassinatos como um ato de resistência. Nascida no Marrocos e radicada parte do ano na França, parte em Israel, a autora do livro “8 de outubro, genealogia de um ódio virtuoso” analisa os fatores intelectuais, políticos e psicológicos por trás do antissemitismo justificado com base em valores progressistas. Adversária do governo de Benjamin Netanyahu, Illouz defende que não precisamos escolher entre a condenação das ações de Israel na Faixa de Gaza e a luta contra o antissemitismo.

Esta mesa é organizada no âmbito da Temporada França Brasil com apoio do Institut Français é da Embaixada da França.


12 de outubro, domingo

11h - Mesa 8

Acabou o amor?

com Renato Noguera  e Priscila Sztejnman

mediação de Cris Bartis

 

O amor entrou em crise? Em meio a tantas possibilidades, o casal deixou de ser o ponto central numa relação? Como a transformação nos papéis sociais do homem e da mulher interfere na forma como nos apaixonamos? Matrimônio e maternidade ainda organizam os laços conjugais? Nesta mesa, a atriz, roteirista e escritora Priscila Sztejnman e o filósofo Renato Nogueira chamam a atenção para a importância de ampliarmos o repertório sobre o amor e dialogam sobre apaixonamento, desejo, sexo e as novas relações afetivas.


15h - Mesa 9

E quando a verdade vem à tona?

com André de Leones e Jennifer Teege

mediação: de Gabriela Longman

 

Imagine ser uma mulher negra e, num belo dia, descobrir que seu avô foi Amon Göth, um dos mais conhecidos oficiais nazistas, retratado no filme A Lista de Schindler. É precisamente esse o caso de Jennifer Teege, escritora alemã de ascendência nigeriana que contou sobre a experiência no livro autobiográfico “Amon: Meu Avô Teria Me Executado”. O brasileiro André de Leones, no romance “Meu passado nazista”, também escreve sobre um avô nazista. Este, porém, habita o interior do Goiás, no centro-oeste brasileiro. Nesta mesa, os autores dialogam sobre como o extremismo costuma estar mais próximo do que pensamos, lembrando que ideias que julgávamos superadas podem reaparecer nos lugares mais improváveis.

 

Esta mesa tem o apoio do Goethe-Institut.

 

Serviço:

4º FliMUJ | Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo
Período: 9 a 12 de outubro de 2025
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 18 horas (última entrada às 17h30).
Ingresso:Gratuito, necessita de retirada no site: http://museujudaicosp.org.br/programacao/
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
BRUNA FERNANDA LIRA OLIVEIRA
[email protected]


Notícias Relacionadas »
Comentários »
Comentar

*Ao utilizar o sistema de comentários você está de acordo com a POLÍTICA DE PRIVACIDADE do site https://agitomax.com.br/.