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Projeto Raízes Daqui completa dois meses celebrando a cultura afro-nordestina nas escolas cariocas

Das palmas do Coco de Roda à força das narrativas femininas, o projeto resgata ancestralidade e fortalece autoestima estudantil em São Cristóvão

ANA MAGAL
25/09/2025 19h44 - Atualizado há 2 horas
Projeto Raízes Daqui completa dois meses celebrando a cultura afro-nordestina nas escolas cariocas
Howard Cappelletti
O projeto Raízes Daqui encerrou seu segundo mês de atividades com resultados que consolidam a importância da iniciativa para a preservação da cultura nordestina no Rio de Janeiro. Durante setembro, as oficinas de Coco de Roda, ministradas por diversos mestres, inclusive a mestre Negadeza, alcançaram estudantes de escolas públicas do entorno da Feira de São Cristóvão, reforçando o compromisso com a educação patrimonial e a valorização das tradições populares brasileiras.

A receptividade nas escolas continuou superando as expectativas dos organizadores. No Colégio Pedro II, a professora Patrícia Pacheco, do laboratório de ciências do ensino fundamental, destacou o impacto imediato das atividades nos estudantes: "O que eu percebi de mais marcante no envolvimento das crianças durante as atividades foi a alegria. O brilho nos olhos é alegria, é um corpo vibrante".

As oficinas atenderam turmas inteiras do terceiro e quarto anos, com grupos da manhã e tarde participando das atividades. Segundo a professora do Colégio Pedro II, cerca de 30 a 35 crianças participaram das sessões principais, enquanto o quarto ano, devido ao cronograma mais rígido, participou no contraturno com uma média de 16 estudantes.

"Logo de cara, a Negadeza, o Beto Lemos e a equipe Raízes Daqui foram muito felizes ao começar diretamente com a musicalidade, com o corpo, com o som, com os instrumentos. Isso agrega muito ao interesse das crianças", destacou a professora Patrícia, ressaltando como a metodologia prática conquistou os estudantes desde o primeiro momento.

A mestre Negadeza, um dos destaques das oficinas de setembro, expressou sua satisfação com a oportunidade: "Fiquei extremamente feliz por ter oportunidade de repassar tudo o que me foi deixado pela minha ancestralidade pelas minhas mais velhas Mestras da cultura popular, do Coco Pernambucano". A artista, que pertence a uma linhagem tradicional do Coco de Roda em Recife e Olinda, trouxe autenticidade e legitimidade às atividades.

O diferencial do projeto reside na presença de mestres populares autênticos. Como explica a professora Patrícia: "O Raízes Daqui traz para dentro da escola, de forma genuína, legítima, a presença de um narrador ou uma narradora, ligada à música, ligada ao ritmo e diretamente vinculada às tradições populares de matriz afroindígena nordestina".

Um dos aspectos mais marcantes observados durante as oficinas foi o impacto na autoestima e representatividade dos estudantes. "É nítido. Durante a oficina, as crianças negras, brancas, pobres, ricas, estão juntas na escola o tempo inteiro. Mas na oficina as crianças que normalmente são marginalizadas se sentem valorizadas", relatou a professora, destacando como meninas negras se identificaram com a Negadeza e ganharam protagonismo ao pegar o microfone para cantar.

A mestre Negadeza observou a transformação dos estudantes durante as atividades: "Eles chegam tímidos e vão se soltando de uma maneira mágica, essa é a força que a música tem. Me faz muito feliz essa vontade deles quererem participar". A artista também ressaltou a importância da liberdade de expressão e do respeito às diferentes crenças dos estudantes.

Para Gilberto Teixeira, diretor e curador do projeto Raízes Daqui, as oficinas de setembro comprovaram mais uma vez a riqueza das manifestações nordestinas: "O ensino da cultura de tradição nordestina perpassa, obrigatoriamente, pelas manifestações mais raízes. As oficinas do Raízes Daqui, que aconteceram em setembro, provaram que o Coco de Roda representa uma das mais ricas e tradicionais manifestações nordestinas".

O projeto também estabelece conexões importantes com a educação ambiental. Como destacou a professora Patrícia Pacheco: "O Coco de Roda é ligado à Terra, o Coco de Roda era dançado nos terrenos das casas de taipa para nivelar o chão da casa e essa força é da natureza como o chão, a Terra, o Barro, a madeira". Essa ligação com elementos naturais oferece oportunidades pedagógicas que vão além da música e da dança.

A presença de mestres populares como a Negadeza trouxe um diferencial único para a aprendizagem. "Numa época em que a informação é tão fluida, vídeos de dois minutos no TikTok, 30 segundos no Instagram, isso não tem a mesma proporção na formação de jovens e crianças. Ter contato com uma narradora, ficar com os olhos brilhando diante da sua narrativa, é um diferencial", enfatizou a professora Patrícia.

O projeto continua funcionando de terça a quinta-feira nas escolas públicas. A iniciativa, que atenderá cerca de 1.500 alunos até novembro, ainda terá oficinas de Frevo em outubro e encerrará com Bumba Meu Boi em novembro.

O Raízes Daqui é uma realização do Instituto Cultural da Feira e Ministério da Cultura/Governo Federal, com apoio da Prefeitura do Rio/RioTur, e representa um modelo inovador de turismo patrimonial baseado na experiência viva da cultura popular nordestina.


Crianças caracterizadas com roupas do Coco de Roda / Foto: Professora Patrícia Pacheco


Musicista Negadeza, uma das mestres das oficinas de Setembro - crédito: Howard Cappelletti

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ANA PAULA DA CRUZ MAGALHÃES
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FONTE: Tamo Juntto Assessoria - Rodrigo T. Ribeiro & Ana Magal
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