Ao longo da minha carreira como Médico-Veterinário, e também em histórias compartilhadas por tutores, uma pergunta delicada e recorrente aparece: “Meu pet pressentiu a morte?”. Cães e gatos, em muitos relatos, parecem mudar seu comportamento dias ou até horas antes de uma perda — seja a própria ou de um tutor.
Esse tema, cercado de emoção e mistério, tem despertado também o interesse da ciência. Afinal, seria apenas coincidência? Um instinto natural? Ou os pets realmente possuem uma percepção mais aguçada daquilo que está por vir?
Estudos internacionais sobre comportamento animal mostram que cães e gatos têm sentidos extremamente aguçados — principalmente olfato e audição. Eles conseguem detectar:
Alterações químicas no corpo humano: variações hormonais, metabólicas e até a presença de doenças graves, como câncer ou diabetes.
Mudanças sutis no comportamento: postura, respiração, ritmo do coração ou até variações emocionais do tutor.
Sinais ambientais imperceptíveis a nós: ruídos, cheiros e vibrações que podem indicar situações de risco.
Um exemplo clássico é o de cães treinados para identificar crises epilépticas ou hipoglicemia minutos antes de acontecerem. Isso mostra que, de fato, eles captam sinais invisíveis para nós.
E quando o assunto é morte, muitos tutores relatam pets que se deitam ao lado do tutor gravemente doente, ficam mais calmos e observadores, ou passam a “vigiar” a casa de forma diferente. Em hospitais e lares de idosos, há registros de gatos que se aproximam sempre de pacientes que, em poucas horas, viriam a falecer.
Do ponto de vista científico, ainda não há comprovação de que cães e gatos “sabem” da morte em termos de consciência abstrata. O que se considera mais provável é que:
Eles percebam sinais físicos e químicos da deterioração do organismo.
Captem mudanças emocionais do ambiente e dos tutores.
Reajam de acordo com seu instinto de proteção, empatia e vínculo social.
No entanto, o tema também transita no campo da espiritualidade e da sensibilidade emocional, onde muitos tutores acreditam que seus pets realmente pressentem o fim da vida de alguém querido.
Independentemente da explicação científica, o que fica evidente é a profunda conexão entre tutores e pets. A etologia e a medicina veterinária reconhecem que cães e gatos podem vivenciar o luto animal — demonstrando tristeza, perda de apetite, apatia ou comportamento de busca após a morte de um tutor ou outro animal da casa.
Esse vínculo reforça que os pets não apenas participam da nossa rotina, mas também compartilham intensamente nossas emoções e momentos mais delicados.
Assim como nós, pets precisam de suporte ao enfrentar o luto. Algumas medidas que recomendo incluem:
Manter a rotina: horários fixos de alimentação, passeios e interação.
Atenção redobrada: oferecer mais carinho, companhia e estímulo positivo.
Enriquecimento ambiental: brinquedos, estímulos olfativos e atividades ajudam a reduzir a ansiedade.
Acompanhamento veterinário: em casos de perda de apetite ou comportamento depressivo, avaliar necessidade de suporte clínico.
Ainda que a ciência não comprove totalmente o pressentimento da morte pelos animais, as evidências sugerem que cães e gatos têm uma sensibilidade extraordinária para perceber mudanças físicas e emocionais. Esse tema, além de instigante, reforça a grandeza do vínculo humano-animal: uma relação baseada em amor, instinto, empatia e presença até os últimos momentos.
Quando um tutor se pergunta se seu pet pressentiu a morte, talvez a resposta esteja na própria intensidade desse laço — porque, no fim das contas, eles não apenas vivem ao nosso lado, mas sentem conosco.
Dr. Marcelo Müller é Médico-Veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, bem-estar animal e atendimento veterinário domiciliar. Atua na promoção de saúde preventiva e integrativa, com foco no diagnóstico precoce, respeito à senciência animal e fortalecimento do vínculo entre pets e tutores. Autor do livro “Meu Pet… Meu Mundo…”.
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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