O jazz nasceu como voz de comunidades marginalizadas e se tornou, ao longo do século XX, uma linguagem universal. Hoje, mais do que um gênero musical, ele é símbolo de liberdade, improviso e coletividade. Em cidades do interior paulista, a Americana Jazz Big Band tem resgatado esse legado histórico e mostrado que a música pode ser vetor de impacto emocional e social profundo.
“O jazz é uma ponte entre diferentes idades e contextos sociais, porque fala diretamente ao coração. Quando apresentamos a Big Band em praças ou teatros, percebemos como a emoção compartilhada se torna um elo entre pessoas que talvez nunca tivessem se encontrado”, afirma Henrique Candido, diretor técnico da Origens Produções.
Diversos estudos acadêmicos já demonstraram que a música em grupo estimula empatia, cooperação e bem-estar emocional, reforçando a importância de iniciativas que aproximam o público de experiências artísticas coletivas. Para Candido, a cada apresentação gratuita em áreas vulneráveis, o que se observa não é apenas entretenimento, mas também inclusão cultural e fortalecimento comunitário.
Para Guilherme Mauad, diretor artístico da Americana Jazz Big Band, o impacto é ampliado pelo formato da orquestra: “O som da Big Band tem uma força que vai além do físico. O volume, os arranjos, a história que carregamos — tudo isso gera uma experiência que toca fundo no público. É um impacto emocional que une adolescentes, adultos e até pessoas da terceira idade em uma mesma vibração”.
Essa experiência ao vivo está diretamente ligada ao bem-estar. Ouvir música em grupo, segundo pesquisas na área de psicologia da música, pode reduzir sintomas de estresse e ansiedade, além de estimular sentimentos de pertencimento e conexão. Mauad reforça: “Vivenciar o jazz ao vivo proporciona leveza, inspiração e a sensação de liberdade, algo cada vez mais escasso na rotina corrida das pessoas”.
Outro elemento essencial do jazz é o improviso. Para Mauad, essa característica é também uma metáfora para a vida comunitária. “Cada músico cria em tempo real, respeitando o espaço do outro e somando sua voz ao coletivo. Essa é a essência do convívio humano: colaboração, diálogo e resiliência. É também a cara do brasileiro, que precisa improvisar todos os dias para equilibrar trabalho, família e vida pessoal.”
Essa proximidade com a realidade cotidiana reforça a função social da música. Em oficinas organizadas pela Big Band, crianças e jovens em situação de vulnerabilidade têm contato com instrumentos e músicos, ampliando horizontes e descobrindo novas possibilidades de futuro. “O jazz pode ser um agente de inclusão social. Ao oferecer acesso à música, mostramos que há outras saídas, outras profissões e outras formas de expressão possíveis”, acrescenta Candido.
A educação musical também ocupa papel central. Nos concertos, os diretores buscam contextualizar historicamente o repertório e explicar o processo criativo, permitindo que o público se sinta parte da experiência. “Quando mostramos o valor do estudo, da disciplina e da performance coletiva, transmitimos um exemplo de perseverança que inspira não só novos músicos, mas cidadãos mais sensíveis culturalmente”, observa Mauad.
O trabalho é realizado pela Origens Produções, produtora cultural responsável por idealizar e levar a Americana Jazz Big Band a diferentes cidades. Para Candido e Mauad, a missão da produtora é justamente conectar música e comunidade, ampliando o alcance da cultura instrumental e fortalecendo o impacto social por meio de políticas públicas e editais culturais.
Outro estigma que o grupo combate é o de que a música instrumental é elitizada. “O jazz nasceu nos guetos, nos bares e nas ruas. Foi e sempre será uma arte popular. Democratizar o acesso é devolvê-lo ao seu lugar de origem: junto ao povo, em praças, escolas e espaços comunitários”, explica Candido.
Esse compromisso ganhou fôlego com o PROAC, programa de fomento cultural do Governo de São Paulo, que possibilitou à Americana Jazz Big Band realizar dez apresentações gratuitas no interior do estado entre 2024 e 2025. “Nosso legado é mostrar que a música instrumental é para todos. Queremos que as comunidades guardem essa experiência como símbolo de união e de transformação”, conclui Mauad.
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PEDRO GABRIEL SENGER BRAGA
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