Instrumento antigo, surgido na Europa medieval, o pífano ganhou uma adaptação nativa no Brasil, com forte influência indígena. Espécie de flauta, de tamanhos variados, passou a ser feita de madeira taboca ou bambu pelos caboclos nordestinos, que tocavam o instrumento em festejos religiosos. Com o passar das décadas, o pife brasileiro se popularizou, mesmo, no Nordeste, onde existem as tradicionais “bandas de pífano”, com destaque para a cidade de Caruaru, no Pernambuco. Também ganhou foco com o Pife Muderno, grupo do flautista carioca Carlos Malta, nos anos 1990.
Em Minas Gerais, o instrumento não é lá dos mais conhecidos – mas tem grandes entusiastas. É o caso do flautista André Siqueira, conhecido por seu trabalho no Duo Veracruz junto ao pianista Matheus Ribeiro, e em bandas e rodas de choro de Belo Horizonte. O instrumentista apresenta agora seu projeto solo, André Siqueira e o Trem de Doido, cuja proposta sonora inédita protagoniza o pífano em composições influenciadas pelas harmonias e ritmos mineiros. Uma “banda de pífano” tocando música mineira, com uma formação singular, que inclui a viola caipira. O primeiro single do grupo, “Pife de Roda”, já está disponível nas plataformas digitais de streaming e, o respectivo videoclipe, no YouTube.
André Siqueira conta que sua relação com o pífano começou cedo, logo quando iniciou seus estudos na flauta. “A primeira flauta que eu tive foi de bambu, era um pífano. Só depois fui para a flauta transversal”, conta o instrumentista, formado na UEMG. “Em meados de 2012, um amigo me apresentou o Carlos Malta e o Pife Muderno e falei: ‘nossa, é esse som que eu quero fazer’. Aí comecei a pesquisar as bandas de pífano do Brasil e me interessei muito. Por ser um instrumento simples e ter uma escala diatônica, ele apresenta muitas possibilidades sonoras. Sem contar que existem pífanos de todos os tamanhos, então é possível chegar tanto a uma sonoridade mais grave como mais aguda”, completa.
Em 2019, o instrumentista colocou em prática uma ideia que o acompanhava desde essa época: “queria montar uma banda de pífano que tocasse músicas e ritmos de Minas Gerais, como o congado, com uma formação diferente das bandas tradicionais, com viola caipira e caixa de folia. Foi quando surgiu o grupo André Siqueira e o Trem de Doido, inicialmente interpretando um repertório de canções de Milton Nascimento. “Logo depois veio a pandemia e, então, comecei a compor pensando no grupo. Fiz dezenas de músicas, que vão integrar esse primeiro disco, que também traz releituras de Bituca”, afirma André, muito bem acompanhado por Alice Valle (pífano), André Oliveira (viola caipira), Mari Carvalho, Daniel Guedes e João Paulo Drumond (percussões).
Quanto ao single de estreia, “Pife de Roda”, André Siqueira diz tratar-se de uma faixa que traz o caráter brincante do pífano em fusão com ritmos brasileiros. “É uma música que tem uma percussão quente, que passeia por vários ritmos, como a ciranda e o xote. A melodia é bem simples, intuitiva e dançante. Uma música que abre os caminhos do grupo, trazendo essa coisa da roda, da vontade de estar junto”, conta. “A música se casou perfeitamente com o clipe, que está lindo. Foi gravado na natureza, é bem vivo, com bastante cores, e transmite essa ideia da vivacidade”, completa o instrumentista.
André Siqueira adianta que o próximo single terá uma participação especial. “A próxima música é uma parceria com o Sérgio Pererê, com quem estou muito ligado nos últimos tempos. Toquei com ele em ‘Samba do Preto Velho’ e ‘Canto Negro para Milton Nascimento’. Ficamos próximos e, então, fizemos esta música juntos, composição minha com letra dele. É um single que também vai ganhar clipe”, conta o instrumentista, que não vê a hora de se apresentar com o novo grupo. “Estamos ansiosos para tocar, porque nunca nos apresentamos ao vivo, já que o projeto surgiu na pandemia. Seguimos na esperança de fazer esse show. Mas, enquanto esse dia não chega, vamos soltando os singles no mundo”.