Gustavo estava em frente ao palco quando, às três e dezessete, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, de 32 anos, acendeu um artefato pirotécnico. Em poucos segundos, uma fagulha alcançou o revestimento de poliuretano do teto do palco. As chamas logo se alastraram. Ao ouvir os primeiros gritos de “É fogo!”, Gustavo saiu correndo. Foi quando ouviu um estrondo e, em seguida, as luzes se apagaram. No empurra-empurra, caiu e foi pisoteado. “Não posso morrer aqui”, pensou.
Com dificuldade, o rapaz conseguiu se levantar. Por três vezes, tentou encontrar uma saída, mas não conseguiu. “Preciso me manter calmo”, repetia, baixinho. O longo caminho até a rua incluía, entre outros obstáculos, grades de ferro usadas na organização das filas.
Quando menos esperava, Gustavo avistou uma fresta de luz vinda do lado de fora. Cambaleante, cruzou a entrada do número 1.925 da rua dos Andradas, no Centro de Santa Maria (RS). Foi naquele endereço que, na madrugada de 27 de janeiro de 2013, 242 pessoas perderam a vida — 90% delas tinham entre 18 e 30 anos.
“Era impossível respirar. Parecia que respirava fogo”, relata Gustavo, um dos 636 sobreviventes da tragédia. “Até hoje, não me esqueço dos gritos de desespero. Nunca vão sair da minha cabeça”.