Quando o projeto foi anunciado no ano passado o hype criado para esse filme foi absurdamente grande. Desde então a expectativa cresceu a cada teaser, trailer ou pôster liberado para divulgação e claro a internet abraçou isso transformando tudo em um espetáculo a parte.
Era como se fosse uma panela de pressão a espera de explodir para o que seria uma das melhores adaptações do cinema ou um dos piores filmes do ano. E o fato do enredo ter sido quase que mantido em segredo, foi outro atrativo do filme da boneca mais famosa e controversa do mundo.
O projeto desde o início teve o envolvimento da Mattel, marca responsável pela criação da Barbie. Por isso esse foi um outro motivo que aguçou a curiosidade de como essa história seria explorada nas telas e se haveria restrições impostas pela empresa. Mas para a alegria de todos, não houve. A empresa também é esperta e sabe irá faturar com um dos marketings mais bem-sucedidos ao redor do mundo. Para isso o longa teria que funcionar e se prova engraçado e emocionante. E com uma produção de Designer e de figurino, impecáveis.
O filme tem um roteiro simples e que funciona ao tratar questões pertinentes que talvez nas mãos de outro diretor, não tivesse personalidade ao invés dessa que é uma comédia muito bem contada. Greta Gerwig, assina o roteiro em conjunto com o marido Noah Baumbach e também fica responsável pela direção. Em Barbie mais uma vez ela brilha ao abordar relações femininas, crescimento e existencialismo. E bebe da fonte de filmes como “O Mágico de Oz” e “Show de Truman”, que abordam jornada e o espetáculo da vida.
A história acompanha a “Barbie Estereotipada” que vive no mundo perfeito das bonecas, onde segue a mesma rotina sem questionar e é feliz assim. Só que um dia esse mundo cor de rosa sofre uma fissura, quando a personagem pensa sobre a morte. A partir daí tudo que era impecável se transforma em pesadelo. Margot Robbie está excelente e te convence de que nasceu para este papel a cada sorriso plastificado e cada lagrima derramada.
Ao invés de debater o que poderia estar de errado na “Barbilandia”, Barbie só quer que tudo volte ao normal, porque para ela aquele mundo funciona. E quem ajuda a protagonista é a “Barbie Estranha”, aquela que toda garota um dia rabiscou o rosto ou cortou os cabelos. Kate MacKinnon rouba a cena ao ser uma espécie de “mentora”, que indica o caminho do mundo real para que a Barbie possa consertar as coisas.
Essa viagem é acompanhada pelo “Ken da Praia” vivido pelo ator Ryan Gosling que abraçou o papel de um jeito divertido e escrachado. O ator aqui se entrega sem medo e abusando de uma atuação caricaturada para construir um Ken que é facilmente amado e odiado.
Ambos seguem essa jornada juntos, mas se separam quando objetivos diferentes surgem no caminho. Ken quer ser mais que um adorno enquanto Barbie vai atrás da “dona” da boneca que criou uma ligação emocional com ela e fez as coisas mudarem. E é aí que entra Glória de América Ferrera, com um dos monólogos mais sensacionais sobre o que é ser mãe e ser mulher em um mundo controlado pelo patriarcado. Apesar disso, a personagem poderia ter sido melhor aprofundada e explorada assim como a relação que tem com sua filha adolescente.
O longa ainda ri de si mesmo e faz piadas com os executivos da Mattel, afinal são todos homens brancos decidindo sobre como bonecas impactam a vida meninas de diferentes raças e países. Traz diversas referências da cultura pop, tem números musicais, mas não se propõem a isso, fala sobre fantasia e claro mexe com a nostalgia para criar identificação. O texto é muitas vezes ácido e sarcástico o que pode dificultar exatamente essa identificação para um público mais novo.
Barbie é divertido sem pretensões de ser planetário ou profundo, mas é aí que se torna tão diferente do que com certeza era esperado para o filme de uma das bonecas mais emblemáticas do mundo. Para o bem ou para o mal sobreviveu diversas gerações e deve continuar polemica por muito tempo.
Ficha técnica
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Estúdio de distribuição: Warnner Bros Pictures
País: Estados Unidos
Duração: 1h54 min.
Ano: 2023
Onde assistir: em cartaz nos cinemas