Núcleo de Criação do Pequeno Ato levanta discussão sobre assédio e violência sexual com uma trama de mulheres que executam um plano de vingança em novo espetáculo com direção de Pedro Granato. Inspirada nas experiências vividas pelas mulheres do núcleo e casos de violência real contra mulheres, Vingança Voyeur coloca o público infiltrado com fones de ouvido junto dos personagens em uma jornada itinerante. A peça estreia em 1º de abril, sábado, às 17h, no Bar Salve Jorge (em frente à Bolsa de Valores no centro de São Paulo) percorre a avenida São João e termina no Centro Cultural Olido, na vitrine da dança. As apresentações seguem durante todos os sábados e domingos do mês de abril e são gratuitas.
Com dramaturgia de Julia Terron e Victor Moretti, a história começa em um bar, onde o público acompanha um grupo de mulheres que estão atrás do dono do estabelecimento que abusou sexualmente de uma delas. O que aconteceu é revelado aos poucos, enquanto as garotas e o público estão conectados por meio de um rádio, escutando conversas intimas através de fones de ouvido. Um a um, elas procuram seduzir os envolvidos no abuso e tirá-los de lá, com o público como cúmplice.
O espetáculo une a pesquisa das peças anteriores do Pequeno Ato, como Caso Cabaré Privê e Fortes Batidas, ambas vencedoras do prêmio APCA, para usar os recursos de gamificação e imersão a fim de investigar novas formas de se relacionar com temas como machismo, sexualidade e a busca feminina por respostas à impunidade.
A decisão de começar a peça em um lugar público, como um bar, foi uma forma de aproximar o público da realidade das personagens e tornar a experiência ainda mais imersiva. A utilização de espaços não convencionais da cidade como cenário propõe uma experiência que fura bolhas de proteção do espectador e o coloca em posição de observação. Assim ele não só acompanha a peça como pode observar outras histórias que estão acontecendo naquele mesmo instante, potencializando o alerta da peça. “O espetáculo te torna voyeur de cenas de abuso, para tensionar como podemos a todo momento estar nessa posição passiva e nos convocando à ação”, relata o diretor.
Granato explica que o interesse pela espionagem surgiu durante o processo de pesquisa e concepção da peça, em 2022, e partiu de situações cotidianas. “Um tema muito próximo às atrizes eram cenas de violência sexual e assédio, todas tinham vivido situações difíceis. Construímos esse universo de compartilhar histórias em segredo e buscar essa ideia da gravação. Como é que você consegue gravar uma situação em que você está oprimida e sozinha, como corridas de Uber e festas de faculdade?”, conta.
A indignação com um momento político de falta de apoio institucional para vítimas de violência também foi um motor da construção da narrativa. “As meninas sentiram gatilho ao acompanhar casos como o do “estupro culposo” e situações em que as mulheres não só eram vítimas de violência, mas também eram novamente vítimas de uma violência institucional. O voyeurismo surgiu muito dessa sensação de impotência e solidão de quem está vivendo uma violência”, explica o diretor.
A dramaturga Julia Terron foi vítima de um estupro e ganhou apoio do parceiro de dramaturgia Victor Moretti para se abrir com o grupo e transformar o relato em arte. Para ela, escrever foi um processo de cura. “Eu passei o processo inteiro sendo muito cuidadosa porque a minha história é a história de uma menina que foi abusada, mas existem muitas e eu queria que esse texto representasse ao máximo todas elas. E hoje estou muito feliz com o resultado do texto porque eu sinto que ele me representa e representa também a vivência geral em relação ao abuso e em relação a viver como mulher nesse mundo”, diz.
A história foi montada também a partir de referências culturais do grupo e do público jovem, diz Granato: o filme “Bela Vingança”, que venceu o Oscar de melhor roteiro original em 2020, e músicas de Miley Cyrus, Shakira, Rosalía e Gloria Groove estão entre elas. “A gente foi trazendo essa estética urbana feminina empoderada e ao mesmo tempo a ação da vingança, a mulher não mais como vítima da violência, mas como quem está nas rédeas inclusive do jogo violento, invertendo um padrão”, conta o diretor.
Para Terron, é um convite para o expurgo das dores e dos traumas que carregamos, ainda que por meio da arte. “É colocar no texto as piores coisas que a gente sente sobre reagir. Reagir ao estupro é uma coisa muito difícil porque nada vai fazer com que uma mulher estuprada se sinta de fato vingada. É sobre conseguir expurgar essa dor, o texto é sobre um momento catártico de explosão em relação à incapacidade de ação sobre estupro. A peça é como se fosse um sonho”, finaliza.
Ficha Técnica:
Direção e concepcão: Pedro Granato. Dramaturgia: Julia Terron e Victor Moretti. Assistência de Direção: Carolina Romano. Atores: Ana Herman, Antonio Sedeh, Camila Johann, Julia Terron, Riggo Oliveira, Milena Pessoa, Michelle Braz, Lucival Almeida, Gabriela Maia, Tallis Oliveira e Rommaní Carvalho Lima. Fotos: Gabriela Rocha. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Design gráfico: Carolina Romano. Técnico de Som: Felipe Aidar. Técnico de Luz: Ariel Rodrigues. Cenotécnicos: Diego Dac e Roberto Tomasim. Produção Executiva: Carolina Henriques e Julia Terron. Direção de Produção: Jessica Rodrigues. Produção e Realização: Pequeno Ato e Contorno Produções.
Serviço:
Espetáculo Vingança Voyeur – Estreia dia 1º de abril, sábado, às 17h.
Ponto de início: Bar Salve Jorge – Praça Antônio Prado, 33 – Centro
Término: Galeria Olido – Sala Vitrine | Avenida São João, 473
Temporada: De 1º a 30 de abril – Sábados e domingos, às 17h.
Ingressos: Grátis – Retirados com 1 hora de antecedência na Galeria Olido
Duração: 90 minutos.
Classificação etária: 16 anos.
Recomendações técnicas para Público:
– Possuir pacote de 4g.
– Levar fone de ouvido.
– Levar celular com bateria carregada.
– Ter o aplicativo Zoom instalado.