Da metrópole ao interior, da cidade à floresta, do digital ao analógico… essas são algumas das dicotomias que o cantor e compositor gaúcho Vedovelli mergulha para lançar o seu segundo álbum de estúdio, “Um Rio Chamado Tempo”, que chega às plataformas digitais no dia 19 de maio. Nas oito faixas do novo trabalho, o artista buscou criar um disco que fosse na contramão do caos contemporâneo, resgatando referências de antigas canções da MPB e procurando um lado psicodélico que dialogasse com uma busca introspectiva.
As canções, todas de sua autoria, foram gravadas em takes sem edições no estúdio e de forma minimalista, em geral com uma base de violão sob o efeito de delay e com a percussão tocada pelo músico Márcio Sorriso, além de sua voz intensa, claro.
“É um disco de performance daquele momento. São takes com uma personalidade que assumimos ali. Todos os envolvidos ficaram muito satisfeitos após as gravações, porque há partes improvisadas. Era como se estivéssemos ali completamente presentes e reais, focados em entregar não só nossa melhor execução, mas também nossa energia mais sincera, Senti isso como um certo dever, em um momento que as fake news se tornaram tão abundantes”, avalia Vedovelli, ressaltando a preparação para executar a canção sem editar e lembrando que só acrescentou guitarra e contrabaixo em algumas das canções posteriormente.
O artista de 33 anos teve a Mata Atlântica como inspiração para as composições, resgatando memórias da vida em sua cidade natal, Farroupilha (RS), de onde saiu para morar no Rio de Janeiro, há dez anos. Uma das faixas, “Ainda é”, conta com a participação da cantora Aline Lessa. Ela também participará do show de lançamento do álbum, no dia 21 de maio, na Sala Baden Powell, em Copacabana. Outro convidado desta apresentação é o músico Kleiton Ramil, da dupla Kleiton e Kledir, responsável pela produção do primeiro álbum de Vedovelli, “Camaleão”, lançado em 2017 pela Biscoito Fino.
“O Kleiton e o Milton Nascimento foram os caras que me mostraram o profissionalismo na
música, que tudo é construção de um trabalho, e não apenas uma luz divina que chega e te leva até onde você espera chegar”, aponta o cantor sobre estes dois grandes nomes da MPB que conheceu no Rio.
Primeiro lançamento do seu próprio selo, “Pescador Sonoro”, o álbum “Um Rio Chamado Tempo” traz referências da Região Sul como a milonga, gênero musical também fortemente presente na Argentina e Uruguai.
“A gente vê o Brasil do samba, que eu me amarro, mas onde eu nasci a galera não escuta tanto samba, que fui conhecer muito tempo depois. No entanto, lá se tem a milonga e o chamamé, além de outros ritmos nativos, que também são super interessantes. A milonga tem uma questão rítmica bem diferente do samba, que vem de outro região da África, além de usar escalas melódicas ciganas. A América Latina pegou muito deste ritmo, de onde depois se derivou o tango e o reggaeton também”, explica Vedovelli, que se inspirou no romance “Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra” (2002), do moçambicano Mia Couto, para o título do novo trabalho.