Até que ponto nossas emoções são naturais e quanto delas é aprendido? Essa reflexão guia o novo livro da psicóloga Valeska Zanello, “Scripts Culturais, Gênero e Emoções”, o qual será composto de dois volumes. O Volume 1 (Problematizando ‘Gênero’)” será lançado no dia 6 de novembro, às 17h, no DOMMA Rooftop, em Brasília, pela Editora Appris. Autora dos best-sellers “Saúde mental, Gênero e Dispositivos” e “A prateleira do amor: sobre mulheres, homens e relações”, Valeska aprofunda em sua nova obra a discussão sobre como o gênero atravessa a construção das emoções, afetando diretamente nossa forma de sentir, reagir e nos relacionar.
Fruto de cinco anos de pesquisa, o livro parte da premissa de que as emoções também são construídas socialmente e atravessadas pelo gênero. Valeska analisa como homens e mulheres aprendem a sentir de maneiras distintas em culturas sexistas. “Um bom exemplo é a relação com o ódio, emoção que infelizmente é profundamente amputada na socialização das mulheres, em culturas ocidentais ou ocidentalizadas. Podemos ver isso nas situações de violência doméstica, nas quais muitas mulheres, apesar de todos os danos sofridos, se apiedam do agressor e preferem ter sua vida prejudicada a prejudicá-los”, afirma Valeska, professora de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).
Com abordagem conceitual, epistemológica e histórica, o primeiro volume revisita o termo “gênero” e seus múltiplos significados, oferecendo ao leitor ferramentas teóricas para compreender como o sexismo estrutura tanto as relações sociais quanto os modos de subjetivação. Ao revisitar o conceito, Valeska reflete também sobre os impasses dos debates contemporâneos. “Debates que me pareceram mais monólogos do que verdadeiros diálogos, pois partiam de premissas não explicitadas ou problematizadas, como por exemplo, do que se está falando quando se refere à ‘Gênero’. Parto aqui da ideia de Wittgenstein, para quem o sentido de uma palavra é seu uso; ou seja, a mesma palavra pode ter sentidos muito diferentes. Se isso não fica evidenciado desde o início de um debate, facilmente o que parece um ‘embate’ seria, na verdade, monólogos sem pontes ou trocas”, explica a autora, que é doutora em Psicologia pela UnB.
O livro também propõe um diálogo entre gênero e saúde mental, articulando o impacto das desigualdades estruturais sobre a formação emocional dos sujeitos. Para Valeska, compreender o sexismo é essencial para entender o próprio funcionamento do capitalismo contemporâneo. “Sexismo e racismo são forças estruturantes e operantes no modo de funcionamento do capitalismo. O patriarcado capitalista produz, configura e interpela determinadas emoções. As emoções se inscrevem no corpo próprio, mas são mediadas pela cultura. O livro (no todo) é sobre essas emoções e como gênero participa na configuração das emoções.” A autora destaca que as divergências em torno da palavra “gênero” não se limitam a diferenças de uso entre movimentos sociais, mas expressam experiências subjetivas distintas. “Talvez precisemos criar novos conceitos para dar conta dessa complexidade, sem deixar de fora ou apagar nenhum grupo”, afirma.
Formada também em Filosofia, Valeska combina o olhar clínico e o pensamento teórico para propor uma reflexão que atravessa campos distintos. “Foi preciso retornar à ‘casa’, na filosofia, e trabalhar histórica e epistemologicamente os conceitos relacionados ao feminismo, seus sentidos e ligação a diferentes movimentos sociais (com várias transformações). De certa forma, todo meu percurso na filosofia e em meu doutorado (cujo tema foram as funções da metáfora na clínica em psicologia; escrita em uma perspectiva entre a psicanálise e a filosofia da linguagem) foram essenciais”, conclui.
Sobre a autora: Valeska Zanello é graduada em Filosofia e em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu o doutorado em Psicologia, com período de pesquisas na Université Catholique de Louvain (Bélgica). É professora do departamento de Psicologia Clínica da UnB, onde também orienta o mestrado e o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em saúde mental, gênero, psicanálise e filosofia da linguagem. Coordena o grupo de pesquisa “Saúde Mental e Gênero”, com foco em mulheres e interseccionalidade com raça e etnia.
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PAULO ROBERTO QUEIROZ GUIMARÃES JÚNIOR
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