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A alma não é presencial: em defesa da EAD de qualidade

Daniel Guimarães Tedesco*

JULIA ESTEVAM
06/10/2025 12h01 - Atualizado há 3 horas
A alma não é presencial: em defesa da EAD de qualidade
Rodrigo Leal

Enquanto críticos acusam a educação digital de ser fria e desumanizada, milhares de estudantes brasileiros só encontram nela a chance real de estudar. A alma da universidade não está em seus tijolos, mas na intencionalidade dos encontros que promove.

Nós, professores, lemos com um misto de concordância e impaciência as críticas ácidas à educação superior digital. Ouvimos os lamentos sobre a universidade pós-humana e as catedrais de dados e, em grande parte, até assinamos embaixo.

Sim, existe um mercado cínico que vende diplomas como se fossem commodities, empacotando um arremedo de educação em plataformas caça-níqueis. Nós, que construímos diariamente uma universidade séria, somos os primeiros a denunciar essa farsa, pois ela mancha o nosso trabalho com o piche da generalização.

Mas a falha da crítica é a sua miopia, que confunde o meio com a mensagem, a ferramenta com a pedagogia. Ao romantizar a sala de aula tradicional e demonizar a tela, ela ignora a essência do problema e, de quebra, despreza o esforço de instituições que estão, de fato, democratizando o acesso ao conhecimento rigoroso no Brasil. A alma de uma universidade, afirmo com a certeza da prática, não está em seus tijolos, mas na intencionalidade de seus encontros.

O grande equívoco é achar que "presença" é sinônimo de proximidade física. Quem já não se sentiu completamente ausente na quinta fileira de um anfiteatro para 200 pessoas, ouvindo uma leitura monótona de slides? Em contrapartida, quem já não vivenciou uma "presença" intensa em um seminário online bem conduzido, onde cada intervenção é visível, cada argumento é registrado e a participação é inevitável?

Em nossa modalidade, a presença é um ato de design pedagógico. Ela é construída por meio de fóruns de debate, de projetos colaborativos que conectam alunos de diferentes cantos do país e de encontros síncronos com os estudantes, onde ninguém é invisível, exigindo reflexão e escrita, antídotos para a tirania da resposta instantânea.

Os críticos perguntam “onde fica o corpo nessa equação?” sem refletir em sua ressignificação. O modelo híbrido, quando levado a sério, trata o encontro físico como um evento nobre, precioso demais para ser desperdiçado com a transmissão de conteúdo, que pode ser feita de forma assíncrona.

Os encontros presenciais são para práticas de laboratório, para debates complexos, para dinâmicas de grupo, para a defesa de projetos. O corpo é convocado para a ação, não para a passividade. É a materialização planejada do saber, e talvez por isso seu valor seja ainda mais agudo.

Enquanto a crítica lamenta a perda de um tempo lento de maturação intelectual, nós o planejamos. Um bom projeto de EAD é, por natureza, uma "pedagogia da desaceleração". Nossos módulos não são uma playlist de vídeos a ser consumida compulsivamente. São jornadas de semanas, com gatilhos de leitura, prazos para reflexão, entregas parciais e a insubstituível mediação constante de professores enquanto artesãos do sentido. Eles não são "suporte técnico", são provocadores intelectuais para transformar a enxurrada de informações em conhecimento estruturado.

A defesa intransigente do modelo puramente presencial é carregada de um elitismo implícito, que ignora o Brasil real, o estudante que trabalha, que tem família, que vive a centenas de quilômetros de um campus.

Para esse estudante, a educação a distância de qualidade não é uma versão inferior do ensino, mas a única versão possível. Descartá-la em nome de uma nostalgia do giz e da lousa é fechar a porta para milhões.

Queremos que a crítica continue, mas que seja precisa e não ideologizada. Que aponte suas armas para as fábricas de diplomas, que mercantilizam a esperança e praticam um estelionato pedagógico. Nós estaremos na mesma trincheira.

Mas não confundam o veneno com o antídoto: Uma universidade digital com alma é não apenas possível, como absolutamente necessária. E ela já está sendo construída, longe dos holofotes dos grandes centros, por aqueles que entenderam que a verdadeira educação é um ato de conexão, não de confinamento.

*Daniel Guimarães Tedesco é Doutor em Física pela UERJ, além de Professor da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas e do Programa de Pós-Graduação em Educação e Novas Tecnologias no Centro Universitário Internacional UNINTER.

 


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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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