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E se Penélope não esperasse Ulisses? Nova obra da escritora paraibana Clara Velloso Borges dá voz à mulher contemporânea

Obra poética de Clara Velloso Borges acompanha, hora a hora, a rotina de uma mulher do século XXI, reinventando o mito de Penélope sob um olhar moderno e ativo

VERIANA RIBEIRO
01/10/2025 12h59 - Atualizado há 4 horas
E se Penélope não esperasse Ulisses? Nova obra da escritora paraibana Clara Velloso Borges dá voz à mulher
Acervo Pessoal/Divulgação

Uma mulher acorda, pega o celular, toma banho, trabalha, se apaixona, fracassa e recomeça. É a partir dessa rotina aparentemente simples que nasce “Penélope (Editora Caos e Letras, 76 págs.), livro de poemas de Clara Velloso Borges. Estruturada como uma jornada de um único dia — das 6h da manhã às 23h —, a obra mostra como cada hora pode revelar tensões, desejos e transformações profundas. 

Assim como James Joyce se inspirou na “Odisseia”, de Homero, para compor “Ulisses” e retratar as aventuras cotidianas de seu protagonista, Clara retoma o mito sob outra perspectiva: a da mulher, ou melhor, a da Penélope que, em vez de esperar, decide viver. Professora, advogada e poeta, mestre em Estudos Literários pela UFMG, a autora propõe uma releitura contemporânea do arquétipo feminino, trazendo-o para o Brasil do século XXI.

A Penélope desta coletânea já não aguarda o retorno de Ulisses. É uma mulher aberta às possibilidades do novo dia, em que cada instante pode condensar a intensidade de uma vida inteira. Os versos capturam pequenos e grandes dramas da existência moderna, compondo uma narrativa poética que acompanha a rotina hora a hora.

“O tema central do livro é a rotina. Entretanto, por licença poética e alguma inspiração em ‘Ulisses’, muitos acontecimentos cotidianos são condensados e entrelaçados em um único dia”, explica a autora. “Às 6h, são abordados o despertar e a relação compulsiva com a tecnologia. Perto das 10h, apaixona-se; quando o sol se põe, parte-se o coração”.

A estrutura é um dos pontos fortes da obra: cada poema corresponde a um horário específico, criando a sensação de fluxo contínuo e de que “um dia inteiro pode, na verdade, ser uma vida inteira”. O livro alterna entre sonetos e versos livres, com forte atenção à musicalidade. “Considero meu estilo poético muito preocupado com a musicalidade dos versos. Afinal, concordo com Ezra Pound: quando a poesia se afasta da música, vai deixando de ser poesia e virando prosa”, afirma a autora.

Segundo ela, o processo de escrita de “Penélope” foi longo e orgânico. “Começou com um poema solto, lá em 2017. Depois, foram chegando outros versos, ano após ano, em um ritmo demorado”, conta. Foi apenas em 2023, ao responder a uma chamada pública da editora Caos e Letras, que a autora decidiu organizar o material sob a ideia das horas. “Alguns poemas expressam diretamente essa cronologia, como nos versos ‘Não muda quando dá perto das cinco: / nessa hora, eu me sinto um ornitorrinco’”.

A bagagem acadêmica de Clara embasa sua escrita sem torná-la hermética. “Um escritor não precisa ter bagagem acadêmica, mas tê-la faz a diferença na minha produção artística, porque me permite explorar a literatura com maior consciência estética”. Suas influências vão de Sophia de Mello Breyner Andresen – “a maior influência para a escrita de ‘Penélope’” – a nomes como Augusto dos Anjos, Caetano Veloso e Franz Kafka, com quem dialoga em seus versos.

 

Destaque no TikTok

A autora atualmente é semifinalista na competição Livros do Futuro, promovida pelo TikTok com “O Último Samba de Carmen Miranda”, seu livro inédito que mergulha o leitor no corpo pulsante do Carnaval nordestino em meio a um crime, usando música como elemento central da narrativa e mantendo a tensão até o último instante. Os vencedores do prêmio são publicados pelas maiores editoras do país (Record, Globo e Harper Collins).

Além disso, Clara prepara um livro de crônicas pelo Selo Off-flip, fruto do primeiro lugar na categoria Crônica da Antologia Terra, e projeta futuros trabalhos em romance e literatura infantil. “O processo de escrita é tão mágico quanto penoso. É uma tentativa de reorganizar meu âmago, embora às vezes o bagunce ainda mais. Nesse sentido, concordo com a reflexão da escritora Olga Tokarczuk: ‘Quando escrevemos, tentamos restaurar nosso equilíbrio, a libido se enrosca em volta de si própria, e de repente nós nos envolvemos em uma ternura ainda desconhecida’”, observa a autora.

 

Sobre a autora

Clara Velloso Borges nasceu em João Pessoa (PB), em 1999. É escritora, professora e advogada, com mestrado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduação em Letras e Direito. Autora de “Penélope” (Caos e Letras, 2025), foi premiada com o 1º lugar na categoria Crônica da Antologia Terra, do Selo Off-flip. Seu trabalho literário transita entre a prosa e a poesia, marcado pela atenção à linguagem e à musicalidade do verso.


FICHA TÉCNICA

Livro: “Penélope”

Autor: Clara Velloso Borges

Número de páginas: 76

ISBN: 978-65-80804-44-3

Gênero: Poesia

Editora: Caos e Letras

Ano: 2025

Adquira a obra no site da editora: https://www.caoseletras.com/penelope-clara-velloso-borges/p 


 

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VERIANA RIBEIRO ALVES
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