Em uma época em que a Amazônia volta ao centro das atenções nacionais e internacionais, seja pela pauta ambiental ou por campanhas que a retratam como cenário mítico, a cultura produzida por quem vive na região segue enfrentando obstáculos de visibilidade e circulação. Entre sons, danças e sotaques que resistem à homogeneização do mercado cultural, o cantor, compositor e produtor Rhenan Sanches vem se consolidando como uma das vozes mais potentes do Pará contemporâneo — uma Amazônia que canta com identidade, mas também com linguagem pop e estética atual.
Rhenan nasceu e cresceu em Belém, no coração de uma das cenas musicais mais ricas do Brasil. Com quase duas décadas de estrada, passou por bandas locais, produziu shows, fundou a Jamboo Produções e dirigiu espetáculos autorais com apelo visual, sonoro e político. Seu trabalho cruza brega, tecnomelody, guitarrada e referências do pop global, sem abrir mão da raiz afetiva e periférica que marca a cultura do Norte.
“A gente não quer ser folclore para turista. A gente quer ser ouvido como parte do agora”, afirma Rhenan. “A música daqui não é uma cápsula do passado. Ela pulsa, se reinventa, disputa espaço com o que é feito no Sul e Sudeste. Só precisa de microfone.”
A proposta de Rhenan vai além do som. Em seus shows e clipes, ele traduz o repertório tradicional em um projeto artístico completo: figurinos autorais, dança coreografada, elementos digitais e uma performance que transita entre a ancestralidade e o futuro. O projeto “Os Sons que Vêm do Pará”, que será lançado em turnê e em DVD ao vivo, representa essa fusão de passado e presente — reunindo influências do tecnomelody das aparelhagens, da lambada das rádios e do brega dos bailes em uma linguagem visual para plataformas como YouTube e TikTok.
Esse posicionamento contrasta com a forma como a cultura amazônica costuma ser representada por fora: como um “exótico” de vitrine, reduzido a estereótipos de floresta, misticismo ou danças ritualísticas. Nos grandes festivais de música e nos circuitos comerciais, a presença da produção nortista ainda é mínima.
Segundo dados do Ministério da Cultura, em 2023, apenas 3,4% dos projetos aprovados na Lei Rouanet vieram da Região Norte, apesar de estados como o Pará apresentarem forte atividade cultural e histórica tradição musical. O número expõe um desequilíbrio estrutural que impacta diretamente a circulação e o financiamento da arte produzida fora dos eixos consolidados.
A trajetória de Rhenan também é marcada pela autogestão. Por meio da Jamboo Produções, ele coordena ações culturais, apresentações, oficinas de dança e formações voltadas à valorização do brega paraense — reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. Em 2024, o artista foi convidado a dirigir e cantar o show de abertura do Círio de Nazaré, maior manifestação religiosa do Norte, consolidando-se como referência na cena artística da região.
“O Pará sempre produziu muito. Mas quem define o que vira mainstream não está aqui. Então a gente aprende a fazer tudo: cria, grava, dirige, divulga, bate na porta. E ainda assim tem gente que acha que a gente só canta em festa típica”, provoca o artista.
Seus lançamentos mais recentes dialogam com o mercado digital — com estética pop, vocais dançantes e beats contemporâneos — mas mantêm a matriz da música afetiva do Norte. “Bumbum pra Trás” e “Sigilo”, por exemplo, já ganharam clipes com produção independente e tiveram destaque em playlists alternativas, chamando atenção pelo equilíbrio entre regionalidade e apelo universal.
O trabalho de Rhenan Sanches não é isolado. Ele se insere em uma cena crescente de artistas paraenses que apostam na música como plataforma de discurso, identidade e protagonismo. Nomes como Felipe Cordeiro, Keila Gentil, Layse, Nic Dias e Jaloo também compõem esse movimento que desafia a lógica dos centros e propõe uma nova cartografia sonora para o Brasil.
Em um país que ocupa a 9ª posição no ranking mundial de maiores mercados fonográficos, segundo a IFPI (International Federation of the Phonographic Industry), a pergunta que fica é: por que o Norte ainda está fora dos grandes festivais, das premiações e das listas de destaques? A resposta pode estar menos na falta de talento e mais na ausência de escuta institucionalizada.
“A gente já tem som, clipe, público e repertório. O que falta é vontade de olhar para além do centro. A Amazônia não precisa ser descoberta — só precisa ser ouvida”, conclui Rhenan.
Cantor e compositor de Belém (Pará), Rhenan transitou entre ritmos como brega, lambada, carimbó, forró e tecnomelody ao longo de cerca de 20 anos de carreira.
Ele é conhecido pelo estilo que mistura música popular regional com uma estética pop contemporânea, ganhando o apelido de “pop amazônico”.
Possui sete álbuns lançados e já gravou cerca de quatro projetos audiovisuais importantes, incluindo DVD ao vivo.
Ficou conhecido com o clipe “Bumbum Pra Trás”, divulgado pelo projeto Sons do Pará, e com o single “Sigilo”, considerado um marco do retorno ao tecnomelody.
Seu trabalho alcançou vídeos com mais de 6,5 milhões de visualizações no YouTube e cerca de 25 mil ouvintes mensais no Spotify.
Rhenan se destaca por unir musicalidade regional com linguagem moderna, produzindo para dança e festa, mas sem perder conexão com suas raízes culturais. O artista transita entre show pop e performances que valorizam a identidade amazônica.
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PAULO NOVAIS PACHECO
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